A triste história escondida da derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial
20 dezembro 2014 às 09h11
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Iúri Rincon Godinho
Quando a Segunda Guerra Mundial acabou, em 1945, a Alemanha e o Japão estavam destruídos. A dor japonesa deve ter sido maior, pois o país se vangloriava de, em três mil anos, jamais ter perdido uma batalha. A humilhação do imperador, tratado pelo povo como Deus, ajudou a derrubar os ânimos mais pétreos.
Mas no mundo ocidental essa história é pouco conhecida, motivo pelo qual “Showa — A History of Japan: 1939-1944”, do combatente Shigeru Mizuki, se tornou um clássico pela maneira desapaixonada de tratar o conflito e pela coragem de expor o lado dos soldados que foram para a frente de batalha — um assunto por muito tempo tabu no Japão. É apenas o primeiro volume, ainda sem tradução em português, de um relato sem emoção dos abusos que os soldados rasos japoneses enfrentavam por parte dos oficiais.
No país, quadrinhos é uma arte no mesmo patamar dos maiores clássicos no tradicional formato de livro. E Shigeru é um mestre do mangá, quase no mesmo nível de Osamu Tezuka — que inclusive tem uma história fantástica de duas pessoas chamadas Adolf, na Alemanha nazista.
Em “Showa”, Mizuki revela que muitos colegas não queriam se tornar kamikazes e jogar seus aviões com eles mesmos dentro contra alvos inimigos. Todos amavam o imperador, mas o mito dos soldados que corriam de boa-vontade no rumo do inimigo carregados de granadas nunca foi unanimidade. Logicamente, para quem estuda o assunto, o “fantasma” do soldado japonês que só se entregava morto foi criado e fomentado mais pelos ocidentais do que pelo exército imperial do Japão.
Shigeru perdeu a mão na guerra. Logo a direita, a do desenho. Sem problema. Aprendeu a desenhar com a esquerda e hoje é um mestre cultuado. Pelo nível de “Showa” merece mesmo.
Iúri Rincon Godinho é publisher da Contato Comunicação, poeta, jornalista e pesquisador da história de Goiás.