Todavia lança correspondência entre Mário de Andrade e Rodrigo de Melo Franco
27 março 2023 às 12h28
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O crítico Marcelo Franco leu, se não todos, pelo menos 80 dos livros de missivas trocadas entre escritores, políticos e intelectuais patropis. Para não ficar atrás, o jornalista Iúri Rincon Godinho, imortal da Academia Goiana de Letras, garante que leu ao menos 79,9%. O que caracteriza um empate técnico entre os contendores.
O fato é que Franco e Godinho são grandes leitores, donos de bibliotecas excepcionais, com livros em várias línguas. São também colecionadores. Juntos, valem, como colecionadores, cerca de 50% do paulista José Ephim Mindlin. Porém, como o bibliófilo morreu em 2010, aos 95 anos, a dupla, se permanecer unida, pode superá-lo. (Na família de Franco vive-se mais de 100 anos; na de Godinho, mais de 110.)
Um debate sobre cultura e o Brasil
“Rodrigo M. F. de Andrade e Mário de Andrade — Correspondência Anotada (Todavia, 528 páginas) é um desses livros interessantíssimos, certamente diria o autor de “Pauliceia Desvairada”.
As 300 cartas trocadas por Rodrigo de Melo Franco de Andrade e Mário de Andrade são “reunidas pela primeira vez”, de acordo com a Todavia. “Testemunham um compromisso apaixonado com o Brasil e com a preservação de seu patrimônio cultural. Para além das repartições públicas, uma amizade fiel anima a inesgotável força de trabalho da dupla, também afeita a conversas, reflexões e crítica à vida literária e política do país”, assinala nota da editora.
A edição conta com notas e apresentação de Clara de Andrade Alvim e Lélia Coelho Frota, além de ensaios fotográficos feitos por Erich Hess, Herman Graeser, Marcel Gautherot e Pierre Verger. Há, informa a editora, “imagens de arquivo inéditas”. O livro foi organizado por Maria Andrade.
O paulista Mário de Andrade (1893-1945 — o bardo e prosador, que pesquisou e escreveu tanto, viveu apenas 51 anos), autor do romance “Macunaíma” e papa da Semana de Arte Moderna de 1922 — além de orientador de uma geração de escritores (que, apesar de beberam em sua fonte, seguiram caminhos opostos — caso de Carlos Drummond de Andrade) —, é o mais conhecido da dupla missivista.
Rodrigo de Melo Franco, mineiro de Belo Horizonte, era advogado, jornalista e escritor. É mais lembrado como “o primeiro e mais longevo presidente do Iphan”.
Franco (grande missivista) e Godinho dirão: “Imperdível”. E, certamente, é mesmo. A única ressalva é o preço: 104,90 reais (será que leitor pode pedir recuperação judicial?). A sorte é que, no Brasil — ao contrário de outros países —, o cartão de crédito divide em várias parcelas. Na Travessa, onde costumo comprar, divide-se em três vezes (e há, claro, o camaradinha Estante Virtual, com preços às vezes mais acessíveis). Em Goiânia, temos as livrarias Leitura, Nobel e Palavrear (cujo acervo é ótimo). Na Amazon, para não apoiar dumping, não costumo adquirir livros.