Escolha é do Colegiado do Departamento de História da UnB. A tese vai representar o programa de pós-graduação no Prêmio Capes, que escolhe as melhores teses do Brasil

Hugo Studart [na foto, de camisa verde] conseguiu dois feitos. Brilhou no jornalismo, na “Veja” e na “IstoÉ”. Aliás, continua jornalista, e dos bons. Quando uma mina parece esgotada, com todos buscando novos eldorados, o repórter atento aparece por lá, escarafuncha por várias bandas, e de repente reaparece com alguma pepita. Mas quem bamburra mesmo são seus leitores. Depois de se consagrar como um dos repórteres mais agudos do país, o irrequieto Studart — quiçá discípulo de outro Hugo, o Victor — espanta colegas e aparece com uma dissertação de mestrado sensacional e iluminadora sobre a Guerrilha do Araguaia. Surge o historiador. “A Lei da Selva — Estratégias, Imaginário e Discurso dos Militares Sobre a Guerrilha do Araguaia” apresenta, de maneira ampla e crítica, uma espécie de “outro lado”, mas sem esquecer o lado dos guerrilheiros, sobre a batalha ocorrida entre 1972 e 1974 entre Goiás (Tocantins) e Pará, tendo o Rio Araguaia, digamos, como “observador” silencioso.

Trata-se de uma dissertação tão bem feita que, se apresentada como tese de doutorado, certamente seria aceita imediatamente. O equilíbrio da exposição, o uso preciso e inteligente da documentação — inédita, por vezes — e o texto fluente de escritor, acompanhado do rigor do historiador, são responsáveis por um dos livros mais importantes sobre a Guerrilha do Araguaia. Um livro referencial, que pode ser criticado e contestado, mas não ignorado. A obra saiu pela Geração Editorial, em 2006.

Formigão (a barriguinha é saliente) atômico, com aquele olhar que cospe fogo em forma de ternura, Studart, tempos depois, reaparece na Universidade de Brasília, a UnB de Darcy Ribeiro, e apresenta sua tese de doutorado: “Em Algum Lugar das Selvas Amazônicas: As memórias dos Guerrilheiros do Araguaia”. Se na dissertação, de uma década atrás, Studart buscou compreender as ações dos militares — parte ainda um tanto esquecida da refrega histórica —, agora mostra, numa pesquisa exaustiva, a história dos camponeses que participaram, sofreram e morreram na guerrilha. Mais guerrilheiros participaram da batalha — e muito mais morreram e não estão listados nos demais livros —, mas historiadores, inclusive os pesquisadores do PC do B, e jornalistas sempre deram muito mais destaque para os militantes comunistas, como Osvaldo (Osvaldão) Orlando Costa, Dinalva Conceição Oliveira Teixeira (Dina), Maurício Grabois, Angelo Arroyo, Suely Yomiko Kanayama. Os camponeses foram esquecidos por quase todos — até pela história dos “vencidos”.

Pós o nariz de cera, que Studart, repórter rigoroso, certamente não aprovará, enfim, a notícia. “Em Algum Lugar das Selvas Amazônicas: as Memórias dos Guerrilheiros do Araguaia” foi eleita, nesta semana, pelo Colegiado do Departamento de História da UnB como a melhor de 2014.

A tese de Studart vai representar o programa de pós-graduação no Prêmio Capes, “que escolhe as melhores teses do Brasil”.

Banca que participou da avaliação da tese de Studart: Lucilia de Almeida Neves Delgado, Nair Bicalho, Guimar De Grammont, Antonio Montenegro e Georgete Medleg. Cleria Botelho Costa foi a orientadora do pesquisador. Não é um time. É uma seleção.