Áudios e vídeos como material editorial são uma ferramenta a mais na produção, mas o uso excessivo do recurso prejudica a qualidade da informação

Não é a primeira vez – e provavelmente não será a última – em que esta coluna critica o excesso de material não produzido pelas redações dos telejornais, mas que são usadas não só como “ganchos” para as matérias, mas, muitas vezes acabam se tornando as próprias matérias.

Não há telejornal que não faça uso de pelo menos um áudio ou um vídeo enviado para a redação por alguém ou captado por uma câmera de monitoramento de um circuito de segurança.

É interessante explorar os recursos que a tecnologia traz e os smartphones fizeram com que cada pessoa hoje seja um cinegrafista em potencial.

Não fossem as filmagens amadoras e as câmeras de segurança muitos flagrantes não teriam sido possíveis. Para citar apenas um exemplo, na semana passada o assassinato do ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe foi filmado por vários presentes. Imagens históricas, claro.

O que é bem diferente de perder um minuto do telejornal para passar o “flagrante” de uma colisão banal no trânsito complicado de uma cidade como Goiânia. Acidentes acontecem e, obviamente, merecem atenção de uma equipe jornalística. Cabe a ela fazer o filtro necessário para fazer ir ao ar ou não: houve vítima? Era uma situação de desobediência explícita a uma lei de trânsito (motorista alcoolizado, atropelamento em faixa de pedestre, avanço do sinal vermelho etc.)? O local tem uma recorrência de acidentes? Moradores fizeram alguma manifestação?

O tempo é o artigo mais precioso para TV e rádio. Cortar matérias de serviço que poderiam ser mais informativas ou prestadoras de serviço para satisfazer a ânsia das retinas do telespectador é viciá-lo no mau caminho do sensacionalismo acrítico e reduzir a qualidade da própria programação.