Siri Hustvedt vai publicar, em 2025, um livro de memórias sobre o relacionamento com Paul Auster
20 outubro 2024 às 00h00
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O escritor americano Paul Auster morreu, aos 77 anos, em 30 de abril deste ano, em decorrência de um câncer de pulmão. Deixou uma obra notável — ressaltada por críticos literários e escritores, como Ian McEwan e Joyce Carol Oates. “Baumgartner” (Companhia das Letras, 176 páginas, tradução de Jorio Dauster) é seu último romance publicado no Brasil.
Paul Auster era casado com a escritora Siri Hustvedt, americana de origem norueguesa, desde 1982. Com sua morte, a autora de “O Verão Sem Homens” decidiu escrever um livro a seu respeito, quer dizer, sobre os dois. A revelação foi feita ao site alemão Zeit Online.
Siri Hustvedt conta que, logo depois da morte do marido, resolveu anotar as memórias, detalhes da vida em comum. “Comecei a escrever as memórias sobre ele e eu, sobre ‘nós’, depois que ele foi enterrado no Cemitério Green Wood no Brooklin, em 3 de maio.”
Ao jornal britânico “The Guardian”, Siri Hustvedt disse: “Não é que eu ‘quisesse’ escrever este livro, mas sim que eu tinha uma necessidade urgente de escrevê-lo”.
O livro já tem título (não se sabe se provisório): “Ghost Stories” (“Histórias de Fantasmas”). “Tenho 120 páginas agora”, afirma a escritora.
A autora de “O Verão Sem Homens” disse ao “Zeit Online” que está de luto, mas “não deprimida”, por causa da morte do companheiro de tantos anos e amores. “Mas estou assustada. Desde que ele morreu, tenho lido sobre o luto o tempo todo.” Viveram juntos 42 anos — quase meio século — e compartilhavam os mesmos interesses, com a literatura acima de qualquer coisa.
“Histórias de Fantasmas” deve ser publicado no início de 2025. “Essa é minha esperança, não minha promessa. Não tenho ideia de quando será publicado”, disse Siri Hustvedt.
Preconceito do jornalismo contra as mulheres
A correspondente do jornal espanhol “Abc” em Berlim, Rosalía Sánchez, relata que “Histórias de Fantasmas”, além das memórias do casal, terá como must algumas das últimas histórias escritas por Paul Auster. Ele escreveu cartas para o neto que nasceu em janeiro de 2024 e elas estarão no livro de Siri Hustvedt. “A última carta ao nosso neto é bastante dolorosa, porém bonita.” As cartas seriam transformadas num livro para o neto, mas, depois de 35 páginas, o escritor não tinha mais energia para continuá-lo.
De acordo com Siri Hustvedt, Paul Auster enfrentou a implacabilidade do câncer com valentia. O que escreveu nas cartas pode ajudar aqueles que ficam desconcertados ante a iminência da morte.
Para escrever as memórias, Siri Hustvedt afirmou que tomou notas sobre a batalha de Paul Auster para ficar vivo e continuar escrevendo, e, como enviou 12 cartas para amigos contando sobre a enfermidade do marido, tem material suficiente para o livro. Depois, resta a imaginação literária — que é decisiva para criar ou recriar a realidade.
Rosalía Sánchez diz que a fama de Paul Auster, que chegou antes da dela — sim, aos poucos se tornou uma escritora tão lida quanto respeitada, com uma temática diferente da de seu marido —, se não travou, empanou, por vezes, o brilho de Siri Hustvedt.
Em 1993, quando lançou “A Mulher Invisível” na Alemanha, jornalistas chegaram a dizer que o livro havia sido por Paul Auster. De maneira preconceituosa, um deles disse: “Todo mundo sabe que você aprendeu a escrever com Paul Auster”.
Em 2017, no Chile, um jornalista perguntou-lhe: “Obteve seus conhecimentos de neurociência com seu marido?” Friamente, Siri Hustvedt respondeu: “O senhor Auster nunca leu um artigo neurocientífico em sua vida”.