Silvia Pilz é vítima do politicamente correto, que bane a crítica, não necessariamente o preconceito

28 fevereiro 2015 às 10h04

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Preconceito não acabará por ser banido das páginas dos jornais. No Brasil, a burrice merece estátua e a inteligência, o cemitério

O politicamente correto, com o apoio de editores, que, de repente, se tornaram populistas — de olho, quem sabe, nos negócios e assinaturas dos jornais —, pode destruir o humor e a diversidade de pensamento da sociedade. Por que opiniões exacerbadas têm de ser banidas? É mais adequado que sejam contestadas com a mesma paixão. Censuradas, não. Pois o blog da jornalista Silvia Pilz, de “O Globo”, foi extinto recentemente porque a autora publicou declarações fortes porém inofensivas — mais do que preconceituosas — a respeito dos pobres.
Silvia Pilz escreveu: “Todo pobre tem problema de pressão. Seja real ou imaginário. É uma coisa impressionante. E todos têm fascinação por aferir a pressão constantemente. Pobre desmaia em velório, tem queda ou pico de pressão. Em churrascos, não”. O que há de excessivo no texto, que é mais bem humorado do que preconceituoso? Nada, é claro. O jornal, no lugar de extinguir o blog, deveria ter sugerido que algum dos leitores mais indignados publicasse um texto rebatendo a colunista. Aliás, o editor de “O Globo” deveria ter visto — e não estou de gozação — uma pauta naquilo que escreveu a jornalista.
O projeto de Silvia Pilz era escrever aquilo que se pensa, mas “ninguém tem coragem de dizer”. Deu-se mal. Os jornais, acossados pelas redes sociais, se tornaram vigilantes, não do peso, e sim das ideias dos que pensam diferentemente da maioria.
O que os editores não querem entender é que, daqui a pouco, não se poderá criticar ninguém nos jornais. Tudo aquilo que desagrada um ou outro “grupo” será transformado em preconceito. O preconceito, por sinal, não acabará por ser banido das páginas dos jornais. No Brasil, tudo indica, a burrice merece estátua e a inteligência, o cemitério.
Louis-Ferdinand Céline, abominável por suas ideias antissemitas, era um escritor maravilhoso. Se vivesse hoje, estaria preso, e talvez impedido de publicar seus livros. O dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues, embora cultuado, porque está morto, também seria banido.