Separação de William Bonner e Fátima Bernardes prova que o amor é como a vida: um dia morre

30 agosto 2016 às 12h15

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O casamento monogâmico está em crise? Possivelmente, não. Mas a ideia de paixão e amor eternos perdeu energia, exceto nos discursos românticos

Na magnífica novela “A Sonata a Kreutzer” (Editora 34, tradução de Boris Schnaiderman, 120 páginas), o escritor russo Liev Tolstói escreveu: “Dizer que a gente vai amar uma pessoa a vida toda é como dizer que uma vela continuará a queimar enquanto vivermos”.
Costuma-se dizer que o amor e a paixão, ventos leves ou fortes, acabam, acrescentando-se que, por vezes, fica o respeito entre os casais. O amor, como os homens e as mulheres, envelhece e passa. Quando os casamentos acabam, o amor e a paixão — que é uma espécie de amor exacerbado — geralmente já haviam se tornado fantasmas, ficções.
Longas convivências criam semelhanças, identidades, mas também reforçam diferenças — que, exacerbadas, se tornam cansativas e desgastantes, daí os conflitos, frequentes ou não.

A pergunta que se faz de imediato, num tempo no qual vidas privada e pública se tornaram uma só, é: se as pessoas estão separadas, como os jornalistas William Bonner e Fátima Bernardes — que pareciam formar o casal perfeito, aos olhos externos —, com quem estão ficando? O que se quer saber, desde já, é sobre novos parceiros — como se isto fosse uma necessidade, ou melhor, uma obrigatoriedade.
Entretanto, como a imprensa “fuça” a vida dos outros, é quase natural que jornalistas, que se consideram deuses do Olimpo, tenham suas vidas esmiuçadas. O que se diz, ao menos dos bastidores, é que William Bonner tem uma nova paixão. Quem, no entanto, nenhum site divulgou; aliás, embora se comente sobre o novo amor, não se toca no assunto — num respeito que se deve ter, mas não se tem, com outros mortais.
Não seria mais adequado acrescentar: e se for Fátima Bernardes quem tiver outra paixão? Ora, tanto para ele quanto para ela, é lícito amar uma, duas ou mais vezes. O amor — espécie de fogo, sobretudo quando a paixão o acompanha — nos faz vivo, ativo, dotado de energia para partilhar prazeres e enfrentar as agruras do dia a dia.
Casais, quando se separam, por vezes cultivam, por assim dizer, um certo luto “branco”. Criam um interlúdio, especialmente quando um dos parceiros já não tem novo parceiro. Isto ocorre sobretudo quando os casamentos são considerados mais “harmoniosos”, com uma convivência mais estreita — apaixonada e respeitosa — entre os parceiros.

O site Glamurana relata que William Bonner deixou a casa na qual morava com Fátima Bernardes e os três filhos “há meses” (não se precisa o que isto significa) e está morando num “apartamento que mandou reformar na Lagoa. Sua mudança chegou no fim de junho”. A separação, só agora destacada pela imprensa, já tem pouco mais de dois meses, se a informação for verdadeira. O fato é que, possivelmente percebendo que a separação seria noticiada com estardalhaço, tanto William Bonner quanto Fátima Bernardes assumiram, nas redes sociais, a separação. Civilizada e respeitosamente, como se espera em geral de quem viveu junto durante 26 anos e são pais de três filhos (trigêmeos).
A monogamia está em crise? Não, porque, se estivesse, as pessoas deixariam de se casar. As igrejas e os cartórios, sem contar os casamentos não documentados oficialmente, não estariam cheios de noivos. Mulheres e homens querem se casar, levar uma vida monogâmica. Mas, aqui e ali, mesmo quando os parceiros são apaixonados, a “voz” do instinto parece falar mais alto e aí se dão as escapadas. Tais escapadas podem resultar num novo amor, numa nova paixão, mas às vezes resultam em nada — são meras escapadas. O difícil, mas não impossível, são os parceiros perdoarem as “pequenas” falhas — se falhas são.

Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.