COMPARTILHAR

Em 648 páginas, o historiador britânico e professor de Oxford explica e interpreta o que o comunismo fez nos países que dirigiu e sua influência em todo o mundo

CAMARADAS - UMA HISTORIA DO COMUNISMO MUNDIAL

O historiador inglês e professor de Oxford Robert Service [foto abaixo], de 67 anos, é um fenômeno. Poucos pesquisadores entendem e explicam tão bem a história da Rússia e da União Soviética (sim, são duas coisas diferentes, embora a primeira tenha permanecido incrustada nas entranhas da segunda entre 1917 e 1991, até voltar a se tornar a velha e resistente Rússia). Os três principais personagens da Revolução Russa de 1917 ganharam biografias exaustivas de Robert Service — todas muito bem feitas.

A excelente biografia “Lênin — A Biografia Definitiva” saiu no Brasil pela editora Difel com sérios problemas. A tradução é extremamente ruim. Basta verificar que o nome de um comunista, aliado de Lênin, aparece escrito de cinco formas diferentes na mesma página. Depois, a edição inglesa em nenhum momento faz qualquer alusão a uma “biografia definitiva”. Na verdade, o título em inglês, “Lênin — A Biography”, mais simples e verdadeiro, deve ser traduzido assim: “Lênin — Uma Biografia”; não se usa nem “a biografia”. Por conhecer a Rússia como ninguém, Robert Service sabe que, como nem todos os arquivos foram abertos — 24 anos depois da queda do comunismo no país —, não se pode falar em biografia “definitiva” de Lênin ou de qualquer outro revolucionário soviético. Aliás, não se pode falar em biografia “definitiva” de ninguém — nem de Jesus Cristo e, vá lá, Roberto Carlos, o deus da música brasileira.

Robert Service escreveu dois outros livros do balacobaco: “Trotsky — A Biography” (MacMillan, 648 páginas) e “Stálin — A Biography” (Belknap Press, 736 páginas). As obras também saíram em Portugal: “Estaline” (Europa-América, 700 páginas) e “Trotsky” (Alêtheia Editores, 500 páginas). Um dos poucos pares para o livro sobre o ditador que governou a União Soviética de 1924 a 1953 é “Stálin — A Corte do Czar Vermelho”, do historiador britânico Simon Sebag Montefiore.

Agora, sai no Brasil outro portento de Robert Service: “Camaradas — Uma História do Comunismo Mundial” (Difel, 658 páginas, tradução de Milton Chaves de Almeida). Trata-se de uma síntese, mas não uma síntese trivial, meramente didática. Trata-se de um livro notável, de caráter mais interpretativo do que factual, sobre a grande tragédia do século 20 — a hegemonia letal do comunismo em vários países.

Robert Service mostra como, de alguma forma, o comunismo mudou não apenas o mundo comunista, porque as ideias de esquerda atravessaram fronteiras e influenciaram vários países, inclusive os capitalistas, que, muitas vezes, fizeram investimentos maciços no social para conter uma possível onda vermelha.

O Brasil merece algumas citações.