Tudo indica que Ronaldo passou a ser um fenômeno depois que deixou de ser jogador de futebol e passou a dar opiniões sobre o país, como se fosse Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro e Raymundo Faoro. A indignação do ex-atacante é tão precisa quando a folha seca de Didi. Ele fala verdades simples e, apesar da réplica da presidente Dilma Rousseff, incontestáveis.

Porém, na sabatina da “Folha de S. Paulo”, na quinta-feira, 29, Ronaldo demonstrou certa inocência pelo menos num ponto: “Ninguém aqui vai ver outra Copa no Brasil. Não vai ter. Até porque a Fifa vai ficar muito traumatizada” [com os problemas na preparação].

Ronaldo, integrante do Comitê Organização Local (COL), talvez não saiba, mas a Fifa não é exemplo para o Brasil e para nenhum outro país. Os escândalos envolvendo seus diretores estão didaticamente expostos em livros e reportagens de jornais e revistas. Mas a questão nem é esta.

A Copa é um negócio, não é uma brincadeira de padres e freiras. Portanto, se for lucrativo para a Fifa e para as empresas que patrocinam o futebol, o Brasil poderá, sim, ter outra Copa. Ademais, a estrutura básica, os estádios, não estará pronta para torneios posteriores? O próprio Ronaldo assinala: “Os estádios aí estão. Mal ou bem, vão ficar prontos”. O futuro, sobretudo o futuro mais distante, geralmente não é decidido tão cedo.

Entretanto, quando critica a falta de infraestrutura e a lentidão do governo Dilma Rousseff, Ronaldo mostra-se de extrema maturidade. “Só 30% das obras vão ser entregues”, afirma. Isto é grave, gravíssimo. “Minha vergonha é pela população que esperava grandes investimentos, esse grande legado, para eles mesmos, para a gente mesma, para a população, a reforma dos aeroportos, a mobilidade urbana, tudo o que foi prometido e não foi entregue.” Não há, no caso, do que discordar.

Ronaldo tem direito de sentir vergonha. E quem não sente?

Leia sobre o complexo de vira-lata no link: http://www.jornalopcao.com.br/posts/reportagens/brasil-o-pais-e-um-beleza-mas-o-povo