Ricardo Setti: Jornais brasileiros estão em crise por não investirem em qualidade editorial
05 maio 2015 às 18h05
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Entrevistado do programa Roda Viva da TV Cultura, articulista da Veja afirma que se cansou do Brasil e que o jornalismo brasileiro está decadente por não acompanhar com rapidez as novas mídias digitais
O jornalista Ricardo Setti, articulista de Veja, foi o entrevistado do programa “Roda Viva”, da TV Cultura, que foi ao ar na noite de segunda-feira, 4, e disse aos entrevistadores que o momento de crise da imprensa brasileira, que tem fechado as portas e reduzido o número de profissionais nas redações, é um reflexo direto das novas tecnologias. Segundo ele, ninguém encontrou uma forma eficaz de usá-las sem perder dinheiro.
Além disse, Ricardo Setti faz um alerta: “Há uma crise nos grandes veículos. Nossos jornais não estão fazendo o que deveriam. Os melhores [profissionais] também estão sendo mandados embora. Não se investe em qualidade editorial”, diz.
Para o colunista, a ideia de que divulgar conteúdos nas redes é jornalismo está equivocada. “Ser jornalista implica analisar os fatos e ambos os lados. Hoje, os repórteres não saem da redação e isto está errado”, afirma.
Ele pontua que os leitores dos jornais impressos querem muito além do simples retrato dos fatos, ou seja, ele explica que há uma busca por uma análise aprofundada nas páginas dos jornais.
Ricardo Setti que está se mudando para Barcelona, na Espanha, diz que perdeu as esperanças com o Brasil. “Estou cansado. Quero descansar um pouco do Brasil. Depois de uma vida inteira de otimismo, pela primeira vez, eu não estou acreditando no Brasil”, desabafa.
Ricardo Setti exerceu as funções de editor-chefe de “O Estado de S. Paulo” de 1990 a 1992 e diretor regional do “Jornal do Brasil” em São Paulo, de 1986 a 1990. Ele também foi redator-chefe das revistas “IstoÉ” (1984-85) e “Playboy” (1985-86) e editor-assistente e editor de “Veja” (1975-83), além de repórter, redator, editor-assistente e subeditor de publicações como a extinta revista “Visão”, o “Jornal da Tarde” e a sucursal de Brasília de “O Estado de S. Paulo”.
Ele também foi diretor editorial das Revistas Femininas da Editora Abril (1999 a 2001) e diretor de redação de “Playboy” (1994-1999), tendo antes sido, na Abril, diretor editorial adjunto (1992-1994). Ricardo Setti recebeu o Prêmio Esso de Reportagem de 1986 por reportagem sobre os bastidores da montagem do Plano Cruzado, publicada em “Playboy”.
Ele também foi o editor das memórias políticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, “A Arte da Política — A História que Vivi” (Civilização Brasileira, 2006, 5ª edição 2012), no qual se refere ao ex-presidente de amigo.
Sobre suas posições políticas, ao responder se é ou não de direita, ele disse que, se ser a favor do casamento gay, do aborto, liberação da maconha e demais drogas, Estado enxuto, mas com forte poder regulador, da livre iniciativa e do alinhamento do Brasil aos países do Ocidente é ser de direita, então ele assim se considera. Porém ele critica a acirramento do debate ideológico na internet. “O Brasil virou um fla-flu, um ódio absurdo nas redes sociais. Em países avançados, ser de direita ou de esquerda significa ser contra ou a favor da presença do Estado na vida das pessoas.”