O revistólogo Carlos César Higa, o mestre que sabe tudo do político e editor de livros Carlos Lacerda, é peremptório: a “Manchete” deve figurar entre as melhores revistas da história do Brasil. Entre seus editores figurou Hélio Fernandes, o irmão menos famoso do filósofo do humor Millôr Fernandes.

Pois chega a nós uma boa notícia, que vai alegrar o Carlos César Higa, mestre em História pela Universidade Federal de Goiás: a revista “Manchete” voltará a circular, a partir de 17 de março deste ano. A circulação será mensal. Sim, a edição será impressa, o que mostra muito coragem de seu novo dono e editores.

A “Manchete” publicará, de cara, uma ampla reportagem sobre o Carnaval carioca, por certo o maior e mais belo do mundo. Os vídeos das entrevistas poderão ser vistos por intermédio de um qr code na página da publicação. Poderão ser assistidos no portal R7, onde a revista ficará hospedada, e na TV Max, na Net.

A “Manchete” é de Marcos Salles, que comprou a revista em 2024. O proprietário anterior, Marcos Dvoskin, havia adquirido a marca num leilão judicial.

Marcos Salles é homem de mídia experimentado, pois trabalhou na “Manchete e nos jornais “O Dia” e “Correio da Manhã”.

A Bloch Editores, de Adolpho Bloch, descontinuou a “Manchete” em 2000. Semanal, a publicação ficou no mercado por 25 anos. Com o fim da Bloch Editores, a revista continuou sendo publicada, de maneira eventual, até 2007. Mas não era a grande “Manchete” de outrora. No caso, o passado era melhor, bem melhor, do que o “presente”.

Estrelas literárias do país escreveram na “Manchete”, como Nelson Rodrigues, Rubem Braga (rei da crônica), Carlos Drummond de Andrade (maior poeta do país), Manuel Bandeira, Paulo Mendes Campos (príncipe da crônica, bom poeta e ótimo tradutor), Fernando Sabino, entre outros, igualmente votados. Vários jornalistas notáveis passaram pela revista, como Hélio Fernandes e David Nasser (que inventava um pouco, ou até muito, mas era ótimo repórter).

Assim como a “Realidade”, embora não fosse tão boa quanto a publicação da Editora Abril, a “Manchete” tinha a ambição de enviar os repórteres para investigarem o “Brasil profundo”. Daí o especial destaque que dava à Amazônia.

Oxalá a revista tenha qualidade e não seja apenas um sonho de verão de um empresário passadista. O modelo de grandes reportagens — sérias e profundas — pode funcionar. Porém, se o investimento for na divulgação mais de fotografias do que de textos, o naufrágio será semelhante ao do Titanic, quer dizer, incontornável. Mas torço para o sucesso da entrevista. Editar revistas e jornais num país de “menos” leitores, e não de “mais” leitores, é, no mínimo, ato heroico.

(Leia sobre Adolpho Bloch, TV Manchete e Roberto Marinho: https://tinyurl.com/6tx6mv8b).