René Sampaio vai filmar a música “Eduardo e Mônica”, de Renato Russo, em setembro

02 fevereiro 2015 às 19h08
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“Eduardo e Mônica”, espécie de música de formação, mostra a juventude e o amadurecimento de um casal, com seus conflitos, ambiguidades e convergências
Envolvido com Noel Rosa, Ataulfo Alves, Mário Reis, Dolares Duran, o divertido “antropólogo” Adoniran Barbosa, demorei a me aproximar da magnífica música de Renato Russo. Quando comecei a “bebê-lo” não parei mais — tornei-me russólatra. Devo ter ouvido “Faroeste Caboclo”, uma espécie de ópera popular sobre o cangaço urbano, umas duzentas vezes, cada vez apreciando-a mais. Renato Russo é músico e, ao mesmo tempo, é um narrador de primeira, preciso, contido aqui e ali, de repente palavroso, até altissonante. Há quê de Geraldo Vandré misturado com Taiguara — uma espécie de cancioneiro, de menestrel —, mas não é, individualmente, nem um nem outro. Aparentemente, se eu não estiver exagerando, cavou um espaço entre Chico Buarque e Caetano Veloso, e um pouco acima de Cazuza, porque certamente mais refinado e, quem sabe, mais distanciado em relação aos fatos narrados. Sim, Renato Russo, como compositor, músico e cantor, é um narrador — daí suas músicas contarem-cantarem uma história, como se fosse um pouco mais do que um microconto. René Sampaio, de 41 anos, filmou “Faroeste Caboclo” — o filme não é ruim, mas como competir com uma música tão poderosa? — e agora vai filmar outra música do artista, “Eduardo e Mônica”.
“Eduardo e Mônica” é uma bela história — o registro das ambiguidades e vieses na vida de um casal. Há o romance de formação e talvez seja possível sugerir que “Eduardo e Mônica” é uma música de formação, com os personagens exibidos jovens e amadurecendo, com o registro das mudanças de perspectivas e expectativas. É, também, uma narrativa sobre diferenças às vezes convergentes. O ouvinte simpatiza com Mônica, dada sua modernidade, ao fato de ser avançada, mas não antipatiza (com) Eduardo, uma espécie de Leopold Bloom, o “homem comum enfim”, diriam, se pudessem, o irlandês James Joyce e o inglês Anthony Burgess.
Acredito que “Eduardo e Mônica” dará um belo filme, se não cair no sentimentalismo ou no papo cult, perdendo a naturalidade expositiva da música. René Sampaio pretende fazer um “filme de época”, sobre Brasília em 1986, e pretende começar as filmagens em setembro deste ano. O filme está previsto para estrear no fim de 2016. Luiz Bolognesi será o roteirista.