2088 - Imprensa (capa Extra)Nem sempre precisa ser “Correio Braziliense” para fazer uma capa marcante. A edição da quarta-feira, 8, do jornal “Extra” prova isso. O diário se caracteriza por ter muitas chamadas de capa, sempre com temas populares e popularescos. É o “Daqui” carioca — na verdade, é o contrário. Mas a priorização de um tema (o linchamento de Clei­denilson da Silva, de 29 anos, espancado até a morte amarrado a poste em um bairro de São Luís, no Maranhã) e sua alusão a outra imagem histórica (a de um escravo negro torturado em praça pública preso a um tronco) mostraram uma ponte ímpar e uma denúncia da estrutura do próprio País.

Lamentáveis foram os comentários de ódio na página do jornal na internet. “Muito bem, justiça feita com as próprias mãos”; “Imagem forte? Onde? Não vi nada demais”; “Estamos precisando muito aprender com os moradores de São Luís. O Rio de Janeiro precisa de vocês!”; “Parabéns, população de São Luís”; “Leve um desses pra sua casa, então!”. A proporção de acenos favoráveis à execução coletiva do bandido foi muitas vezes superior à da condenação do ato.

O Brasil precisa se repensar como sociedade. Não só com relação à violência de fato, mas também a violência no discurso, que ocorre predominantemente nas redes sociais. E os meios de comunicação precisam se reprogramar, literalmente, para não exacerbar, em nome de uma audiência suja de sangue, os ânimos já naturalmente exaltados de uma população acuada que clama por mais segurança.