Portugal comemora lançamento de biografia da grande escritora Agustina Bessa-Luís
17 fevereiro 2019 às 00h00
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Ela publicou um belo romance que dialoga com “Madame Bovary”, de Flaubert. E escreveu biografias do Marquês de Pombal e de Florbela Espanca
O Brasil precisa conhecer — um pouco mais — uma das mais notáveis escritoras portuguesas, Agustina Bessa-Luís, de 96 anos. Ela escreveu romances e biografias (do político Marquês de Pombal e da poeta Florbela Espanca). Uma porta de entrada para sua obra pode ser o belo romance “Vale Abraão” (Planeta, 270 páginas; é fácil encontrá-lo, por 10 reais, no portal Estante Virtual) — uma espécie de diálogo com “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert. O crítico literário Marcelo Franco (me presenteou com um exemplar, em 2004) admite que é “genial”.
A espantosa capacidade de produzir de Agustina Bessa-Luís, com alta qualidade, é um enigma que não pode ser explicado por sua longevidade (ela, por sinal, está reclusa, protegida pela família). E. M. Forster (Edward Morgan) viveu 91 anos e deixou uma obra reduzida, ainda que de qualidade. Portugal comemora — talvez seja a palavra justa — o lançamento da biografia “O Poço e a Estrada — Biografia de Agustina Bessa-Luís” (Contraponto, 503 páginas), de Isabel Rio Novo, doutora em literatura. Numa entrevista ao jornal “Diário de Notícias”, a autora explica o título da obra: “Nasce da leitura do seu romance ‘O Manto’, onde o personagem vislumbra o seu futuro ao olhar para dentro de um poço. Era uma metáfora interessante para a aventura da escrita precoce de Agustina, que começa a ler e escrever muito cedo e, também na adolescência, inicia a escritura literária”.
O Brasil parece fascinado por José Saramago, o García Márquez de Portugal. Nada contra, por sinal. Mas Agustina Bessa-Luís e António Lobo Antunes, escritores bem diferentes, diga-se, merecem leituras atentas. O leitor certamente concluirá o quanto a literatura portuguesa é interessantíssima e, mais, variada.
Caetano Veloso escreveu sobre a escritora: “Uma estilista como há poucos, em qualquer língua, Agustina dá-nos um retrato imediato e profundo do nosso país — e uma lição de bem escrever. A versão bessa-luisiana da unicidade, originalidade e especialidade do Brasil é a mais forte de quantas há, já que não nasce de enganos de grandeza (nem de desejo de tê-los) mas de evidências experimentadas e detalhista olho crítico. É de tirar o fôlego” (o compositor, cantor e escritor está comentando o livro “Breviário do Brasil”, de Agustina Bessa-Luís, publicado no país pela Editora Tinta da China). Difícil discordar.