A revista “Veja” é comandada por um quinteto de primeira linha: Mauricio Lima, o diretor de redação, e, como redatores-chefes, Fábio Altman (autor de textos muito bem-escritos), José Roberto Caetano, Policarpo Júnior (responsável, com sua equipe de Brasília, pelas melhores reportagens investigativas da publicação da Editora Abril) e Sérgio Ruiz Luz.

Volta e meia, a “Veja” surpreende a concorrência com furos de reportagem. É uma de suas marcas. Mas há probleminhas, fáceis de serem resolvidos.

Leticia Bufoni: skatista famosa | Foto: Instagram

Primeiro, as resenhas literárias perderam fôlego desde a saída do jornalista e crítico literário Jerônimo Teixeira e ficaram mais superficiais. O espaço para livros é pequeno. Por vezes, um livro de alta qualidade é resumido em poucas linhas numa nota da coluna “Veja Recomenda”.

Segundo, a coluna “Radar”, editada pelo ótimo Robson Bonin, contém informações privilegiadas que, por vezes, ganham desdobramentos na própria “Veja” e em outros jornais. As notas são curtas, com escassas linhas, mas os furos são, eventualmente, grandes. Mas há um probleminha, digamos.

A “Veja” tem uma coluna, “Gente”, onde frequentemente divulga textos relativamente apimentados e fotos de pessoas, em geral mulheres, seminuas. Entretanto, de uns tempos para cá, o nu — feminino, frise-se — também passou a ganhar espaço na coluna “Radar”. Dirão, por certo, os editores: mas as mulheres divulgadas sempre aparecem, nas redes sociais e sites, como a “Veja” divulga, ou seja, com vestimentas escassas. Se disserem assim, terão alguma razão. Mas por que colocá-las, como uma espécie de dissonância ou para aliviar as notícias pesadas, na “Radar”? A coluna “Gente” não é suficiente?

Anita: cantora e celebridade internacional | Foto: Instagram

As notas, quando citam as mulheres seminuas, às vezes são até objetivas, mas, de vez em quando, resvalam para a maldade (seria misoginia?). Estariam, por assim dizer, “punindo” as mulheres seminuas, espécie de rebeldes sem ideologia?

Na edição de 17 de maio, como fecho da coluna, há uma nota sobre Jade Picon — que veste um biquíni branco e aparenta olhar para a câmera (a fotografia é de sua página no Instagram). “Radar” informa que um empresário, sócio — ou ex-sócio — de Jade, acionou-a judicialmente. “Coisa grande” — conclui a “Veja” quase-playboyzada.

Na edição de 24 de maio, o leitor é convidado a ver a cantora Anita com o bumbum a descoberto. A estrela internacional do Brasil, processada pela MC Bruninha, ganhou a causa, mas é acusada de plágio pela ex-parceira. A pendenga já chegou ao STF, ficamos sabendo, já meios “bumbuneados”.

Virginia Fonseca, apontada como milionária — e nem sabemos se é, de fato —, “perdeu uma batalha judicial para uma cliente que comprou seus produtos e não levou”. A influencer perdeu a causa na Justiça e terá de pagar 150 mil reais. A fotografia mostra a jovem com uma sainha, aparentemente sem calcinha, e com um top. A barriga — lisinha — não conta com nenhuma cobertura protetora. O que se quer é esclarecer um fato ou chamar atenção para uma mulher quase pelada? (A notícia está na edição de 11 de agosto.)

Virginia Fonseca: influencer | Foto: Instagram

Leticia Bufoni merece uma nota de “Radar” na edição de 18 de agosto (a que tem o tenente-coronel Mauro Cid na capa, todo composto, com roupa militar). A skatista “enfrenta processos na Justiça por dívidas de imóveis em SP”. Ela deve IPTU e condomínio. A fotografia do Instagram mostra a jovem de biquíni e uma barriga sarada.

O editor poderá dizer, mais uma vez, a foto foi colhida no Instagram de Letícia Bufoni. Mas terá como explicar porque a fotografia está disposta numa coluna de política e porque as notícias sobre mulheres, em geral celebridades das redes sociais e bem-sucedidas financeiramente, têm de ser negativas e elas expostas sempre seminuas?

Haveria, para a revista “Veja” algum nexo entre mulheres seminuas e problemas na Justiça? Na coluna “Radar”, os homens aparecem quase sempre de terno e, às vezes, até usando toga. Nenhum de short ou sunga.