Poderoso, Grupo Globo é visto como adversário tanto pela direita como pela esquerda

22 julho 2017 às 11h21

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É interessante como a Rede Globo move a paixão política do País. Tanto à direita quanto à esquerda, principalmente em seus extremos, a organização mais poderosa do País é motivo da mais fina flor do ódio e de teorias da conspiração das mais criativas. A fama não vem do nada – e seria inocência pensar que uma empresa como a Globo faria “apenas” jornalismo. Primeiramente, não é só de jornalismo que se constitui o Grupo Globo – nomenclatura que substituiu “Organizações Globo” em 2014 –, mas de um conglomerado de empresas de vários ramos da comunicação e do entretenimento. Em segundo lugar, a própria gigante já admitiu seus pecados no passado, exatamente em relação a ligações com o poder: reconheceu seu apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar, bem como, no histórico debate final entre Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das eleições presidenciais de 1989, admitiu sua parcialidade (pró-Collor) na edição que foi ao ar no dia seguinte, no “Jornal Nacional”.
Por isso, foi interessante observar uma reportagem da “Folha de S. Paulo” sobre fatos do domingo de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no auge das articulações de Michel Temer para barrar o avanço da denúncia contra si, formulada pela Procuradoria-Geral da República, e cujo relatório estaria em votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Com o título “Em reuniões privadas, Maia dá como irreversível queda de Temer”, uma notícia na coluna “Poder”, da “Folha”, da jornalista Marina Dias, relatava que o presidente da Câmara – e sucessor imediato na linha presidencial – saíra de um encontro com o presidente para outra reunião, da qual seria o convidado principal. O local? A casa de Paulo Tonet, vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo.
Coincidentemente ou não, nos dias seguintes, Rodrigo Maia passou a adotar um tom mais duro e autônomo em relação a Michel Temer, embora reafirmasse sua “lealdade” ao presidente. Os atos falaram por si: ele disse que não aceitaria vetos à lei da reforma trabalhista – contrariando o acordo que o governo havia fechado para votar a matéria – e não fez força para que a admissibilidade da denúncia contra Temer fosse agendada para antes do recesso dos deputados.
A Globo é golpista? Não exatamente com a imagem com que veem os ideólogos e militantes, mas é claro que a empresa tem seus interesses e que eles não são nada imparciais. Como também não são as demandas de banqueiros, ruralistas, sindicalistas ou quaisquer outras corporações. A questão é que, por deter o poder que detém, o que a Globo quer que aconteça tem grandes chances de ser “provocado” a acontecer.
De toda forma, é curioso ver como se processa o pensamento de que a Globo está “do outro lado” na disputa ideológica: se para a esquerda, a Globo representa como nenhuma outra instituição os interesses da elite econômica, para os conservadores de direita sua abertura à diversidade de causas – principalmente nas telenovelas – dão a ideia de que o conglomerado quer implantar ideias de esquerda e princípios “comunistas” no seio da sociedade brasileira.