Como muitos políticos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) é um mestre da distorção. Em relação a determinados assuntos, não quer esclarecer nada, e sim gerar suspeitas, semear dúvidas e ganhar o voto de eleitores indecisos e, às vezes, confusos. Agora, exigiu que a Polícia Federal investigue os institutos de pesquisas, que supostamente teriam fraudado levantamentos para beneficiar o candidato do PT a presidente, Lula da Silva. Do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) cobrou que investigasse a existência de um cartel entre os institutos de pesquisa, que estariam “combinando” resultados. O postulante do PL, bem orientado, sabia que o Tribunal Superior Eleitoral barraria as duas iniciativas, e nem se importa com isto, pois o que planejava era criar o caos e criar expectativa negativa em relação ao TSE e os institutos. Curiosamente, a última pesquisa do Datafolha mostra Bolsonaro vencendo em todas as regiões do país, menos no Nordeste.

O superintendente do Cade, Alexandre Barreto e Souza, disse à jornalista Miriam Leitão, de “O Globo”, “que não havia encontrado qualquer elemento para abrir a investigação, e que portanto a intenção era de não seguir a decisão do presidente do órgão. Ou seja, no Cade já não havia dado certo a pressão do governo”. Mas a PF, aparentemente submetida a Bolsonaro, e não mais ao Estado, decidiu investigar, até ser barrada pelo TSE.

Pintura de Mike Davis | Foto: Reprodução

“O Estado de S. Paulo” publicou o melhor editorial a respeito da questão, sob o título de “O bolsonarismo e sua perversa disjuntiva”. Vale sublinhar: o “Estadão”, jornal secular e conservador, não é petista nem comunista.

No editorial, publicado no sábado, 15, o “Estadão” assinala: “O Estado brasileiro tem sofrido a mais descarada e intensa distorção desde a redemocratização do país. O presidente Jair Bolsonaro manipula o aparato estatal para seus interesses particulares, produzindo continuamente novos abusos, numa sequência aparentemente interminável de excepcionalidades, e suscitando, por sua vez, respostas das instituições que, infelizmente, não têm sido as melhores. O cenário é desolador”.

O “Estadão” postula, de maneira aguçada, que o objetivo de Bolsonaro é “disseminar desconfiança e criar ainda mais confusão na campanha eleitoral. Usa-se supostamente a lei [Ministério da Justiça, Cade e PF] para atacar a própria lei”.

Pintura de Wolfgang Lettl

O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, agiu com presteza e avaliou que a PF e o Cade usurparam, de maneira flagrante, “funções constitucionais da Justiça Eleitoral” e mandou suspender as duas investigações.

O “Estadão” pondera que “a Justiça agiu de forma excepcional, além de seus limites legais”. Mas ressalva: “O bolsonarismo impõe às instituições uma disjuntiva rigorosamente antirrepublicana: a omissão ou o abuso. Suas constantes e crescentes ameaças são tão abusadas — não há rigorosamente nenhum limite — que uma resposta dentro da lei, de acordo com os ritos previstos, parece ser insuficiente, mais se assemelhando a uma omissão. Ou seja, para não serem coniventes, as instituições são instadas a uma atuação fora dos padrões, dos ritos. (…) É preciso reconhecer, sem meias palavras, o problema: há um presidente da República deturpando profundamente a lei e a máquina pública”.

Porém, os “convertidos”, bolsonaristas ou não, “compram” o discurso de Bolsonaro, ou seja, o TSE “impediu” a investigação sobre os institutos de pesquisas. Institutos, repita-se, que o colocam muito bem… tanto que, repetindo, de acordo com o Datafolha, só está perdendo para Lula da Silva no Nordeste. Enfim, Bolsonaro, bem orientado, está vencendo a guerra da comunicação contra a democracia, e usando muito bem a democracia para sua ação antidemocrática.