Descoberta pelo pesquisador Zachary Turpin, a história vai sair em livro pela editora da Universidade de Iowa

Walt Whitman, grande poeta, rejeitava sua prosa de 2ª linha

Walt Whitman é, ao lado de Emily Dickinson, o maior poeta americano. Há outros grandes poetas, de alta qualidade, mas nenhum, nem mesmo Emily Dickinson, se tornou tão celebrado quanto o bardo de “Folhas de Relva”. Era poeta, acima de tudo, mas escreveu prosa. Mesmo de baixa qualidade, um livro de prosa de uma figura de sua envergadura acaba se tornando, mais do que relevante, objeto de curiosidade e, até, de desejo. O estudante de literatura Zachary Turpin, da Universidade de Houston, é um escavador da literatura do poeta. Ele descobriu o romance, se se pode dizer assim, “Vida e Aventura de Jack Engle”, que Walt Whitman publicou num jornal de Nova York, em 1852.

“Vida e Aventuras de Jack Engle” saiu em capítulos, como se fosse um folhetim. Como nota o jornal espanhol “El Periodico”, se o autor não fosse Walt Whitman, a história ficaria esquecida para sempre. Trata-se de “uma história melodramática, ao estilo” de Charles Dickens (que, frise-se, era um prosador de primeira linha, entre os maiores da história), “em que não faltam um órfão, um advogado sem escrúpulos, quakers virtuosos” e aspectos folhetinescos. O objetivo era mostrar a vida de Nova York em meados do século 19.

A história está na internet, no site The Walt Whitman Quarterly Review, e será publicada em livro pela editora da Uni­versidade de Iowa.

David S. Reynolds, expert na obra de Walt Whitman, avalia que o valor da obra reside no seguinte mistério: “Como um jornalista e escritor aparentemente convencional se converteu no ‘autor do verso livre sensual, filosófico, selvagemente experimental e totalmente inclassificável de ‘Folhas de Relva’?”.

Por ter se tornado “o” poeta dos Estados Unidos, praticamente uma instituição — como Machado de Assis é, por certo, para o Brasil —, Walt Whitman, plenamente consciente da qualidade duvidosa de sua prosa, não tinha interesse em publicar parte de sua ficção. Em 1891, ao aceitar publicar suas primeiras ficções, sugeriu que tais obras, “toscas e juvenis”, deveriam ser esquecidas. O poeta “quase renegou sua novela ‘Franklin Evans, o Bêbado’, um de seus poucos trabalhos conhecidos no campo da ficção, que”, na época em que foi publicado, “foi sua obra mais vendida”, diz “El Periodico”.

Zachary Turpin havia descoberto, em 2016, “‘Manly Health and Training’, que hoje se poderia denominar como um tratado de autoajuda ‘avant-la-lettre’, que Walt Whitman publicou em 1858 no ‘The New York Atlas’”.