Pergunta “diferente” de repórter esportivo revela “ser humano” Abel Ferreira

12 junho 2022 às 00h00

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Técnico do Palmeiras aproveitou questionamento para dar sua visão sobre como jogadores de futebol devem cuidar de si mesmos e de seu futuro

Até tempos atrás, havia uma certa desqualificação da imprensa esportiva, como se fosse um setor “menor” do jornalismo. Dizia-se que as editorias de Esporte e de Polícia eram onde se colocavam os “focas”, aqueles repórteres iniciantes no ofício, para ganharem estofo para mais tarde, então, assumirem funções em áreas mais nobres da redação.
O fato é que há, ainda hoje, mesmo uma certa monotonia nas entrevistas esportivas, o que, muitas vezes, é creditado à baixa qualificação do entrevistado, que tem sempre o mesmo discurso. Uma meia verdade que já foi contestada por ninguém menos que o meia Sócrates, craque lendário do Corinthians e da seleção brasileira.
Sócrates era conhecido por sua intelectualidade e engajamento em causas sociais. Exceção das exceções no meio do futebol, ele se formou em Medicina para, só depois, se dedicar integralmente aos gramados. Certa vez, talvez pensando que o médico poderia dar um diagnóstico preciso sobre o dilema, um repórter lhe perguntou por que todo jogador sempre respondia as mesmas coisas ao microfone. O “Doutor” replicou, sagaz: “Porque vocês sempre perguntam as mesmas coisas.”
Rodrigo Fragoso, do canal TNT Sports, não é desse time “acusado” por Sócrates. E fez, de uma entrevista rotineira do técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, uma discussão profunda sobre humanidade, profissionalismo e responsabilidade com o próprio futuro.
Veja o vídeo com a pergunta e a resposta do treinador:
Golaço de Wesley hoje e renovação de contrato. Ótima noite para eu perguntar sobre gestão humana ao Abel. Deslumbramento.
"Já comprou carro? Já comprou casa?". Tem Telê Santana no Abel Ferreira? Tem. Tem Luís Campos, do PSG, no Abel Ferreira? Tem também.
Confira a resposta👇 pic.twitter.com/7Seky7JUIa
— Rodrigo Fragoso (@reporterfragoso) June 10, 2022
À beira do campo, Abel é tido como um profissional temperamental. Para muito, o que antigamente se chamava de “chato de galochas” – um “pentelho”, para os mais novos. Mas ninguém nega sua competência profissional, que já levou o Palmeiras a inúmeras conquistas nos últimos anos, entre elas duas Copas Libertadores.
Mas a visão além-futebol que ele faz chegar a seus comandados é fruto de um abrir de janela que só é possível quando se percebe o mundo como algo maior do que o simples ato técnico de “saber fazer”. O problema, no futebol, é que há uma grande dificuldade em ter uma discussão mais profunda, porque se toma como base o preconceito de que isso não é possível com pessoas que, em tese – na verdade, puro preconceito –, não teriam conteúdo cultural para tanto.
Abel Ferreira provou que futebol não é só futebol.