Papéis do Panamá: Mario Vargas Llosa tinha offshore nas Ilhas Virgens. O escritor nega
06 abril 2016 às 16h30
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O Nobel de Literatura de 2010 afirma que um assessor pode ter feito o negócio, para garantir investimentos, mas que ele não é responsável pela Talome Servides Corp
No Brasil, colônia mental americana, é “Panama Paper”, quando deveria ser “Papéis do Panamá”. Na Espanha, corretamente, é “Los papeles de Panamá”. Pessoas insuspeitas — como o legalista Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura de 2010, e o cantor Roberto Carlos —, são citadas como proprietárias de offshores em paraísos fiscais.
O intermediário Dave Marriner, por meio do escritório Mossack Fonseca, abriu uma offshore, de nome Talome Services Corp, para Mario Vargas Llosa e sua então mulher, Patrícia Llosa, nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal. A revelação está na edição de quarta-feira, 6, do jornal “El Confidencial”, a partir de uma investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. A empresa foi aberta em 1º de setembro de 2010. O motivo de Mario Vargas Llosa e Patricia, sócios na Talome (cada um com 50%), terem procurado o paraíso fiscal não está devidamente esclarecido na reportagem. Mas, quando se procura as Ilhas Virgens, ou outros paraísos fiscais, o objetivo é fazer investimentos altamente rentáveis e sem pagar impostos no país onde se mora.
Pouco antes de ganhar o Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa desistiu da offshore. Dave Marriner comunica o fato ao escritório Mossack Fonseca e a Talome é repassada para “cidadãos russos”.
Mario Vargas Llosa, tido como cidadão exemplar, garante que não “comprou” a Talome, mas nos documentos constam tanto seu nome quanto seu endereço em Madri, na Rua Flora.
Em sua resposta à imprensa, o autor do romance “Conversa no Catedral” nega ter aberto a empresa, mas admite que um assessor pode ser o responsável pelo fato, com o objetivo de garantir algum investimento. “Nos estranha muitíssimo esta informação”, frisa. O escritor afirma que é possível que “algum assessor” da área de investimentos, “sem o consentimento dos senhores Vargas Llosa”, tenha “reservado esta sociedade para a realização de algum investimento que estava estudando, sem que, finalmente, se materializasse em nenhuma ação concreta”.
Mario Vargas Llosa assegura que está em dia com as obrigações tributárias nos países em que recebe “benefícios” — como Peru e Espanha, onde reside. Como a empresa foi fechada dias antes de ser anunciado como Nobel de Literatura, sugerindo que queria evitar alguma “mancha” na sua biografia, o autor de “O Sonho do Celta” frisa que recebeu a notícia de que havia sido premiado pela Academia Sueca ao mesmo tempo que a imprensa.
Motivo de briga com García Márquez
Patricia e Mario Vargas Llosa não estão mais casados. Certa vez, quando estavam separados, o escritor colombiano Gabriel García Márquez teria flertado com Patricia e falado mal do autor peruano. Tempos depois, quando se reconciliou com Patricia, Mario Vargas Llosa encontrou-se com García Márquez, num cinema do México, e o esmurrou. O criador de “O Amor nos Tempos do Cólera” foi nocauteado. Tornaram-se inimigos pessoais e ideológicos. O autor de “Tia Júlia e o Escrevinhador” é liberal e o autor de “Cem Anos de Solidão” era de esquerda, subordinado ao ditador cubano Fidel Castro.