Brasil é um game em modo hard, especialmente para as mulheres. Daqueles jogos em que não adianta se sair bem durante a fase inicial. O mais provável é a morte nas mãos do “chefão” lá no final.

Até organismos internacionais já alertaram que o jogo não está justo. Em caso mais recente, nesta semana, relatoras da ONU enviaram carta ao Estado brasileiro pedindo medidas de proteção a mulheres jornalistas que cobrem casos de crimes sexuais.

A carta foi divulgada pelos colunistas do UOL Jamil Chade (que cobre a sede europeia da ONU na Suíça) e Cristina Fibe (filha da ex-apresentadora Lillian Witte Fibe). Além dessas medidas, o documento pede a anulação dos processos de difamação contra a repórter Schirlei Alves.

Julgada em primeira instância, a jornalista foi sentenciada a um ano de prisão em regime aberto e a uma multa de R$ 400 mil devido a reportagem, divulgada em 2020 no Intercept, que mostrou as humilhações sofridas no tribunal pela modelo e influenciadora Mariana Ferrer.

Durante o depoimento no processo em que o empresário André de Camargo Aranha foi acusado de estuprá-la – caso no qual foi absolvido -, Mariana chorou e implorou respeito ao ser desqualificada pelo advogado de defesa, Cláudio Gastão da Rosa Filho.

O crime teria ocorrido em dezembro de 2018, na boate Café de la Musique, em Florianópolis. Na época, Mariana, com 21 anos, alegou ter sido dopada e agredida sexualmente em um quarto isolado dentro do estabelecimento.

A sessão on-line desse caso explodiu na internet. Levou o Conselho Nacional de Justiça a advertir o juiz do caso, Rudson Marcos, por permitir os “excessos de comportamento do advogado”.

Mariana Ferrer: humilhada num tribunal | Foto: Reprodução

Ensejou também a criação da Lei Mariana Ferrer, de novembro de 2021, que protege vítimas e testemunhas de crimes sexuais no contexto de julgamentos.

Mesmo assim, a jornalista Schirlei Alves acabou condenada por difamação em processos movidos pelo juiz e pelo promotor Thiago Carriço de Oliveira. Ela recorre da decisão.

Coincidentemente, a carta da ONU aparece no momento em que se noticia outro caso escabroso. Dessa vez no Rio de Janeiro, no badalado circuito de entretenimento dos arcos da Lapa.

Uma turista sul-americana de 25 anos denunciou à polícia que foi dopada e estuprada por vários homens em um quarto escuro de uma casa noturna na região, no domingo, 31/março. Detalhe: segundo a turista, a primeira reação dos seguranças da casa, diante de seu choro e desespero, foi tentar minimizar a situação e demovê-la de fazer a denúncia.

Ela prosseguiu, fazendo todos os exames de corpo de delito, mal sabendo que esta é apenas uma das fases intermediárias. Lá na frente, o jogo costuma complicar mais… para as vítimas.