O sucesso e a felicidade de Matheus Ribeiro incomodam, sobretudo na TV Anhanguera
19 abril 2020 às 00h43
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A felicidade do jovem, no trabalho e no amor, não desagrada a maioria. Mas deixou de agradar algumas pessoas — principalmente no Grupo Jaime Câmara
Matheus Ribeiro, de pouco mais de 20 anos, consagrou-se como apresentador do “Jornal Anhanguera 2ª Edição”. Por duas razões: competência — fala bem, dá as notícias de maneira precisa e, por vezes, comenta-as de maneira adequada — e empatia com o telespectador. Quando diz “obrigado” — ou “brigado” —, ao término do telejornal, deixa um rastro de simpatia. De empatia.
Depois de se consolidar como apresentador do “JA”, Matheus Ribeiro apresentou, num sábado, o “Jornal Nacional”, substituindo William Bonner. Mostrou-se seguro e, ao mesmo tempo, que tem identidade e é ousado. Agradou os goianos e o país.
Depois do sucesso local e nacional, Matheus Ribeiro pediu demissão. Numa carta dirigida à diretora de Jornalismo da TV Anhanguera, Brenda Freitas, o jornalista reclamou do salário baixo — menos de 4 mil reais (o que deve ter escandalizado a diretoria da TV Globo) — e das condições de trabalho da afiliada da rede da família Marinho.
As empresas têm suas regras e os profissionais devem cumpri-las, mas empresas realmente modernas sabem acolher seus jovens talentos e desenvolvê-los. Com Matheus Ribeiro, apesar da trajetória vitoriosa, a direção do Grupo Jaime Câmara deixou-o ao deus-dará, ou, noutras palavras, na mão de pessoas que talvez tenham dificuldade para chefiar. Há líderes que não são líderes e que, muitas vezes, não dão exemplo aos subordinados.
Quando do pedido de demissão de Matheus Ribeiro — frise-se que demonstrou coragem, porque poucos deixam a Globo, ainda que seja uma afiliada —, o público ficou ao seu lado e teceu críticas à empresa, que não soube reconhecer seu valor, optando por adotar uma visão burocrática do mundo, no qual o valor individual não tem lugar.
Mas dois fatos talvez tenham escapado ao debate — se houve debate.
O sucesso é um incômodo no Brasil
Primeiro, o sucesso de Matheus Ribeiro parece que não foi bem recebido na TV Anhanguera (tanto que não lhe aumentaram o salário). Inveja? Não só. O Brasil, e não só Goiás, parece ter o hábito de “punir” e “crucificar” os que obtêm sucesso. O jovem é bom? É, mas… sempre tem um “mas” — um “drummond” — no meio do caminho.
Portanto, para “punir” o sucesso do jornalista, tiveram de tentar derrotá-lo, colocando pedras pesadas no seu caminho. Ao não aceitar o “cabresto”, dos que querem “domá-lo” — e não exatamente orientá-lo —, Matheus Ribeiro mostrou que tem caráter e coragem. Culpa-se em geral Brenda Freitas — não seria uma autêntica líder —, mas é muito mais um problema de mentalidade. Talvez o complexo de vira-lata de que falou Nelson Rodrigues (parece que há uma “ética” de que os brasileiros têm de se considerar todos “ruins” ou “inferiores”. Logo nós que temos Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Teles, Yeda Schmaltz, Bernardo Élis, Villa-Lobos, Bidu Sayão, Guiomar Novaes, Siron Franco, Di Cavalcante, Portinari, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Pelé, Ayrton Senna, Gal Costa, Elis Regina, João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Elza Soares e Chico Buarque. E tantos outros). O dramaturgo e o cronista sugeriu que tal complexo é nacional.
Tentar desatualizar o Brasil é perda de tempo
Segundo, ao revelar que é homossexual e, sobretudo, que estava apaixonado, Matheus Ribeiro parece ter despertado o conservadorismo até de jornalistas que se apresentam, em teoria, como “progressistas” (a linguagem com a qual foi “vergastado” sugere que a barbárie mora ao lado). Tanto que, no lugar de ser criticado — o trabalho de qualquer jornalista pode e deve ser examinado criticamente —, acabou sendo atacado. Por que um homem não pode amar outro homem? Por que uma mulher não pode amar outra mulher? Por causa de princípios conservadores? Ora, perguntaria Nietzsche, princípios forjados por quem mesmo? Há ideias que são defendidas pelas pessoas, às vezes sem reflexão, que não são delas. Foram absorvidas e são repetidas como dogmas. A banda passou, o mundo mudou e não dá para recuar. Pautas arcaizantes não vão prevalecer só porque um governo, ou parte de um governo, quer. Ninguém segura a mudança quando é forte e quando a sociedade já as assimilou, mesmo quando não as aprova inteiramente. Os que querem desatualizar o Brasil lutam, na verdade, contra moinhos de vento. Portanto, estão perdendo tempo.
A felicidade de Matheus Ribeiro, tanto no trabalho quanto no amor, não desagradou muita gente, talvez a maioria. Mas certamente deixou de agradar algumas pessoas — inclusive, talvez sobretudo, na TV Anhanguera.