O que a sociedade deve fazer com o assassino de 13 anos que matou Tamires, jovem de 14 anos?

24 agosto 2017 às 12h19

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Assassino estaria preparado para matar duas pessoas. Tamires foi a primeira vítima. Só um esforço multidisciplinar pode ajudar na “recuperação” do jovem criminoso
Um adolescente de 13 anos, do qual não se sabe o nome — a lei não permite que seja publicado —, matou Tamires de Paula Almeida, de 14 anos. Os colegas e amigos contam que Tamires era dedicada aos estudos, era apaixonada por leitura e quase não saía de sua casa. O Assassino era arredio, não tinha amigos e sentava-se na última fileira da sala de aula. Não há nenhuma informação de que fosse um aluno exemplar. O advogado da família diz que o Assassino “não usava drogas e não tem problemas mentais” (informação extraída de “O Popular”). Por que, então, o Assassino retirou a vida de Tamires com sete facadas?
“O Popular” e o “Diário da Manhã” publicaram reportagens corretas, limitadas, obviamente, pela escassez de informações precisas. “Matei porque tive vontade”, eis a verdade, quiçá insofismável, do Assassino. Ele queria matar e, segundo as fontes dos jornais, havia admitido que iria assassinar duas pessoas. Isadora, de 15 anos, disse à repórter Tatiane Barbosa, do “Diário da Manhã”: “Quando ela [Tamires] saiu da escola , passando por nós, ele [o Assassino] falou que não aturava o modo como ela andava”. Isadora acrescenta: “Ele não aceitava perder, partia para cima dos colegas. Ele não aparentava ter medo, fazia as coisas sem pensar nas consequências”. A jovem sugere que o Assassino participava de jogos, como o Baleia Azul. Teria até uma cicatriz no braço.
Tamires estava no lugar e hora errados? Não. O Assassino parece ter premeditado o crime. Os dois moravam no mesmo edifício. O Assassino no 12º andar e Tamires no quinto andar. Tamires não subiu ao 12º andar; pelo contrário, o Assassino desceu ao 5º andar, possivelmente para matá-la (ele sabia de seu horário escolar, por exemplo). A reportagem de “O Popular” relata que, à polícia, o Assassino teria dito que não conhecia Tamires. Por certo, não eram amigos, mas, morando no mesmo prédio e estudando na mesma escola, o mais provável é que se conhecessem sim. A fonte do “Diário da Manhã” contrapõe que o Assassino observava Tamires, inclusive não lhe agradava a sua maneira de andar (a felicidade, a beleza e a gentileza de Tamires, mais do que o jeito de andar, certamente não agradavam o Assassino, um ser casmurro e agressivo). O crime parece claramente premeditado.
Logo depois de matar Tamires, o Assassino decidiu, por algum motivo, ir à escola, no Jardim América, para contar à diretora e ao inspetor que havia cometido o crime. Estava sujo de sangue e com a faca numa mão. Não parecia assustado. Antes, dava a impressão de que estava se exibindo, que havia sido autor de uma façanha, não reprochável, e sim elogiável. Tanto que levou o inspetor e a diretora para verem seu “feito”.
Por enquanto, e nas conversas com a diretora, com o inspetor e com a polícia, o Assassino, aquele que havia listado o nome de duas pessoas que iria matar, não se diz arrependido. É provável que, por ter cumprido parcialmente a promessa — matou uma e não duas pessoas —, sinta-se “aliviado”. Mais tarde, sob orientação do advogado da família, provavelmente, adotará outro discurso — o de vítima, o de menor que não sabia o que estava fazendo. Sobretudo, dirá, quem sabe, que está arrependido.
“Recuperação”
Por ser menor, o Assassino, cuja agressividade parece não ser controlável, deverá ficar — se ficar — no máximo três anos “recolhido” ou “apreendido”. Se alegada alguma insanidade, o remeterão para algum tratamento. O mais certo é que logo estará nos edifícios, nas ruas e nas escolas. “Ele só tem 13 anos!”, dirão. De fato, é um adolescente, mas é, também, um Assassino e, como tal, deveria — deve — ser tratado pela sociedade e pela Justiça. Trata-se de uma ameaça à vida de outras pessoas — tanto que elaborou uma lista de assassináveis.
O que fazer com o Assassino? Não dá para desconsiderar que, apesar de ser um criminoso — e, pelo que disse, não por acaso —, que se trata de um adolescente, de um menino de 13 anos. Deve ser tratado com rigor, mas com a possibilidade de que há uma chance de recuperação. Só uma missão interdisciplinar — que envolva psiquiatra, psicólogo, assistente social, juiz, promotor de justiça, família — pode ajudá-lo a se “recuperar”. É preciso fazer uma tentativa de “reconstruí-lo”. Por que senão, ao ser devolvido às ruas, poderá cometer outros crimes. Quem sabe, um dia, no lugar de chamá-lo de Assassino (e, até, de psicopata), que é uma palavra dura mas verdadeira, possamos tachá-lo de Homem.
O promotor assassinado
Há alguns anos, um menor matou um funcionário do extinto Banco do Estado de Goiás (BEG). Degolou-o. “Apreendido”, foi levado para um Batalhão da Polícia Militar, onde deveria cumprir uma “pena” de três anos. Nesse período, seria “ressocializado”, “reeducado”. Antes de “cumprir” a “pena”, fugiu do batalhão e ganhou as ruas, envolvendo-se com assaltantes. Alcançada a maioridade, viu um homem estacionando o automóvel, num bairro de Goiânia, e decidiu abordá-lo. O homem não reagiu, deixou o carro e saiu às pressas. Mesmo assim, sem representar nenhuma “ameaça”, o criminoso o matou friamente. O assassinado era o promotor de justiça Divino Nunes — homem decente, profissional competente e extremamente pacífico.