Basicamente, há dois tipos de crítica de cinema. Primeiro, a dos jornais, revistas e portais — quase sempre superficiais, tendo mais o objetivo de divulgar os filmes. Há, claro, exceções, como Inácio Araújo, da “Folha de S. Paulo”, e Luiz Carlos Merten, do “Estadão”. Segundo, a dos acadêmicos, que, se contém profundidade e ângulos múltiplos, não é lá muito acessível para os leitores ditos comuns.

Há poucos críticos que, tendo formação rigorosa, sabem escrever para jornais — sem jargões e sem análises às vezes incompreensíveis. A revista “Veja” já teve uma crítica supimpa, Isabela Boscov.

Steven Spielberg e Isabela Boscov

Qual é o diferencial de Isabela Boscov? Primeiro, o fato de ter um conhecimento amplo de cinema — tanto a respeito de técnicas-formas como dos filmes em si, com suas histórias. Segundo, sabe transformar este conhecimento num texto — com linguagem — acessível a qualquer um.

Nos últimos tempos, sob recomendação de Candice Marques de Lima, minha mulher, tenho visto alguns comentários de Isabela Boscov no YouTube. Suas críticas surpreendem. Porque, relativamente curtas, explicam e sintetizam muito bem os filmes. E mais: trata-se de uma crítica posicionada. Ela não tem receio algum de dizer que gostou de um filme popular, como “John Wick” (o qual, sabendo que é pré-arte, também aprecio), e de que não gostou de um filme cultuado.

Clint Eastwood e Isabela Boscov | Foto: Reprodução

Nem sempre quem escreve bem sobre cinema consegue falar bem sobre cinema. Pois Isabela Boscov consegue. Ela tem noção precisa de tempo e, por isso, os seus comentários, além de convincentes, não cansam os telespectadores.

O poeta, jornalista e editor Carlos Willian me pergunta: “O que realmente falta para melhorar a GloboNews?” Penso em dizer: “Não sei”. Porém, como sou relativamente palpiteiro, sugiro duas coisas ao Ricardo Villela e ao Ali Kamel, os chefões do Jornalismo da Globo.

Se eu fosse editor de Jornalismo da GloboNews, convocaria, de imediato, Isabela Boscov para fazer críticas semanais de cinema — talvez na quinta-feira ou na sexta-feira. Ela se encaixaria como uma luva. Pois sabe falar para os telespectadores, e num tempo curto. Poderia, inclusive, fazer um comentário menor durante o dia e, à noite — quando a GloboNews fica repetindo as notícias do período diurno —, um comentário maior.

Espaço televisual para livros

A segunda sugestão tem a ver com livros. Apesar de ter sido retirado do ar, o programa apresentado por Edney Silvestre era bem-feito. Não tinha audiência? É provável. Mas é preciso insistir com o que é bom para incentivar os telespectadores a aprenderem a apreciar cultura.

É muito difícil explicar um bom livro em dois ou três minutos. Mas não é impossível. Resenhistas de “O Globo” — alguns são bons (Bolívar Torres e Ruan de Sousa Gabriel. E há uma crítica acadêmica que escreve com profundidade e clareza, Dirce Waltrick do Amarante) — poderiam fazer um teste, apresentando lançamentos, digamos assim, aos telespectadores — ao menos uma vez por semana. Os comentários também podem ser, quando necessários, sobre livros de história, filosofia, psicanálise, antropologia etc.