A rede criada pelo banqueiro Rubens Menin tentou e não conseguiu competir com a TV Globo. Sobretudo, não deu lucro suficiente

A história da montagem da TV Tupy e da TV Globo não teve só grandes momentos. As duas passaram por crises graves. Assis Chateaubriand era dono de vários negócios, como revistas, jornais e rádios, e, por isso, conseguiu investir num negócio, televisão, que não era, inicialmente, tão rentável. Com a Globo, que não nasceu em primeiro lugar, ocorreu o mesmo.

Monalisa Perrone ao ser contratada por Douglas Tavolaro para ser a estrela da CNN | Foto: Reprodução

Mas a Tupy e a Globo nasceram nas mãos de empresários de comunicação, com expertise adquirida durante décadas. Não eram amadores e sabiam o que estavam fazendo. Sobretudo, sabiam que era preciso ter paciência com o novo negócio, que era, por assim dizer, o “substituto” do rádio.

A CNN Brasil foi criada por Rubens Menin — dono da Construtora MRV e do Banco Inter (sua fortuna é avaliada em 1,2 bilhão de reais) — e pelo jornalista Douglas Tavolaro em 15 de março de 2020, há quase três anos.

Com sua experiência de banqueiro e construtor civil, Rubens Menin quer ter lucros — e rapidamente. Não se sabe o empresário queria ter um instrumento de poder. Douglas Tavolaro era executivo da TV Record, mas não era o empresário por trás do negócio.

Douglas Tavolaro entendia de jornalismo, portanto, do ponto de vista jornalístico, a CNN Brasil nasceu como uma emissora de televisão competente. Porém, Rubens Menin não é do ramo jornalístico e, por certo, jamais entendeu a mecânica do meio.

Num tempo em que a televisão não é mais novidade, e de alguma maneira está ficando para trás — dada a competição de outras redes, do streaming e do excesso de entretenimento proporcionado pela internet (a grande televisão do mundo hoje são os pequenos celulares), com suas redes sociais —, o banqueiro-empresário criou uma rede de televisão com uma estrutura imensa e, portanto, dispendiosa. É bem possível que o faturamento atual — e desde março de 2020 — não esteja pagando o investimento, ou seja, certamente não está dando lucro (ou, se tiver, será um lucro baixo, o que banqueiros não toleram).

Então, a crise da CNN Brasil precisa ser colocada em perspectiva. Não tem a ver só com audiência relativamente baixa — não se tornou uma grande competidora para a TV Globo e para a GloboNews — ou má qualidade de seu jornalismo. Na verdade, a audiência é razoável e seu jornalismo é, no geral, de primeira linha. Falta, digamos assim, a “agressividade” da GloboNews. Para se apresentar como isenta, por momentos a CNN ficou com a imagem de “sorriso do governo Bolsonaro” e “cárie da sociedade brasileira”. Tudo bonitinho, mas meio insosso, com Alexandre Garcia, durante certo tempo, se apresentando como uma espécie de porta-voz do governo Bolsonaro e, em segundo lugar, da CNN Brasil.

Num meio altamente competitivo, a Globo, a empresa, foi cortando custos e reduzindo o número de funcionários. Cortou duramente, sem dó nem piedade — como empresa capitalista racional, sem paixões humanistas. A CNN Brasil nasceu “grande” quando o mercado já cobrava estruturas menores. Custa caro manter uma rede no ar, durante 24 horas. Rubens Menin gastou muito e bem, porque montou uma equipe de qualidade — séria e responsável. Agora, depois de aparentemente ter percebido como a comunicação realmente mudou (e continua muito “cara”), o banqueiro tomou as rédeas do negócio e quer torná-lo mais “barato”.

As demissões de Daniel Adjuto, Monaliza Perrone, Gloria Vanique, Marcela Rahal, Sidney Rezende, Leandro Karnal (que não devia ser contratado) e Kenzô Machida têm a ver com tudo o que se disse acima. Noutras palavras, Rubens Menin, o Mãos de Tesoura, decidiu enquadrar sua própria empresa — demitindo a rodo. Uma coisa é certa: vai afetar a qualidade da emissora de jornalismo.