O Popular pode pagar caro por buscar o “jornalismo de resultados”

11 julho 2015 às 09h42

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A não ser que queira mesmo uma nova cara — que até o momento não apareceu —, o Grupo Jaime Câmara faz gol contra e compromete o futuro de seu veículo mais emblemático

Os tempos de crise assolam todos os setores da economia. Alguns mais, outros menos, mas todos são afetados. As redações dos jornais não escapam. Mas é preciso ter temperança para superar os momentos difíceis.
Não é o que se vê na redação de “O Popular”. Não passa um mês sem que haja importantes defecções no quadro de jornalistas. A demissão de repórteres e editores, bem como a entrada de outros, obviamente é algo da rotina de qualquer trabalho da área. Mas assusta como tem sido intensificada a saída — às vezes sem troca — de profissionais de grande experiência em um período curto.
Entre outras baixas (de profissionais da área de suporte, como Manoel de Sousa, da fotografia, e Antônio Baiano, da digitação), contabilizam-se desde o ano passado a saída de jornalistas do nível de Carla Borges, Cristina Cabral, Polly Duarte, Valéria Monteiro, Lídia Borges, Kríscia Fernandes, Patrícia Drummond, Thiago Rabelo, Karla Jaime, João Carlos de Faria, Rosângela Magalhães, Rogério Borges, Wanderley de Faria, Leandro Resende, Robson Macedo, Maurílio Faleiro e Mariosan.
É mais do que um time inteiro. E, a não ser que o Pop queira mesmo ter uma nova cara — o que até o momento não apareceu —, o Grupo Jaime Câmara está fazendo gol contra e comprometendo o futuro de seu veículo mais emblemático.
Não é nada tão difícil de explicar, e dá para continuar a analogia com o futebol. Imagine um time bem montado, já entrosado há algum tempo. Se a escalação continua basicamente a mesma, é bem provável que haja um padrão de jogo consolidado na equipe. O que gera, de igual modo, uma estabilidade, inclusive no rendimento. De repente, há um desmonte no elenco: saem os principais jogadores, o “onze” titular se decompõe.
Como dar sequência ao padrão de jogo? Como remontar um elenco e fazê-lo engrenar em pouco tempo? É o mal que sofrem vários clubes Brasil afora, campeões em um ano, rebaixados no seguinte.
A redação do Pop passa por esse momento. É claro que renovar é preciso, mas o fato é que a equipe do jornal já não se reconhece mais — e nem estamos aqui falando do aspecto motivacional. Ainda há quem produza artigos de nível de excelência, como Silvana Bittencourt e Gilberto G. Pereira, e gente veterana de casa capacitada em todas editorias — Sérgio Lessa, Jânio José da Silva, Malu Longo, Rosana Melo, Rute Guedes, Fabiana Pulcineli, Paula Parreira e tantos outros. Mas a renovação intensa e a reposição insuficiente — isso em termos de quantidade, mas também de experiência — precarizam o trabalho e fazem com que o time não saiba “jogar”.
Naturalmente, a responsabilidade não recai sobre a editora Cileide Alves. O “enxugamento” é política da empresa, que sempre alega contenção de despesas. Para o jornalismo goiano é uma pena. “O Popular” pode ser contestado em sua linha editorial, às vezes formal e carente de mais análise, mas é o jornal diário de referência do Estado. Precisa ser olhado, sim, por um viés mais institucional, por assim dizer.