“Pop” diz que perícia descobriu sangue de Deise Faria Freitas numa chácara onde se toma chá do Santo Daime. “DM” informa que “não pôde ser comprovado” que sangue é da enfermeira do Hospital de Urgências

Deise Faria Freitas 4320325_x360

As reportagens “Caso Santo Daime — À Espera de uma resposta” (“O Popular”, sexta-feira, 29), de Rosana Melo, e “Caso Deise — Mistério perto do fim” (“Diário da Manhã, sexta-feira, 29), de Aparecida Andrade, contêm informações discrepantes. As duas contam a história da enfermeira Deise Faria Freitas (ou Ferreira), de 41 anos, que desapareceu após sair de casa para ir a uma chácara, onde se toma ayahuasca, ou chá do Santo Daime. Teria sido assassinada? A polícia prendeu dois suspeitos — o engenheiro agrônomo Antônio David dos Santos Filho e o ex-policial militar Cláudio Pereira Leite.

Comparemos os dois textos. O de “O Popular” é mais completo, portanto mais informativo.

O “Pop” informa que Deise Faria Freitas era auxiliar de enfermagem no Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa). O “Diário” afirma apenas que era enfermeira.

O “Diário” frisa que o sobrenome de Deise é “Faria”; o “Pop” prefere “Farias”.

O “DM” apresenta Cláudio Pereira Leite como líder do Instituto Céu do Patriarca e da Matriarca. O “Pop” acrescenta que aposentou-se como policial militar, após levar tiro num olho (“após levar um tiro no olho”, afirma o jornal, sugerindo que tinha ou tem apenas um olho). Num gráfico, o “Pop” afirma que é presidente do Instituto Xamânico Patriarca e Matriarca e, na reportagem, afirma que é “líder do Instituto Céu do Patriarca e da Matriarca”. Os dois nomes são ligeiramente diferentes do mencionado pelo concorrente

O “Pop” informa que Cláudio Pereira Leite e Antônio David dos Santos Filho foram “indiciados por homicídio e ocultação de cadáver”. O “Diário” não informa nada a respeito, exceto que foram presos.

O “DM” diz que a chácara de onde Deise Farias Freitas desapareceu, em julho de 2015, fica “próxima de Nerópolis”, o que está correto, mas não informa que está localizada em Goiânia. O “Pop” informa que a chácara está situada no Setor de Chácaras Bom Retiro, na GO-80, em Goiânia.

“O Popular” garante que a Polícia Técnico Científica da Polícia Civil “teria…encontrado sangue da vítima próximo da piscina da chácara”. Há um laudo, mas a polícia não o apresentou à imprensa. Uma filha de Deise Faria Freitas, Apoena Faria de Sousa (a grafia do “Pop” não é, neste caso, “Farias”; o “DM” escreve “Apoena Faria de Souza”, com “z” no lugar de “s”), disse, segundo transcrição do “Diário da Manhã”: “Na chácara onde minha mãe participou da seita, a perícia, através do luminol, ativou a presença de sangue, mas não pôde ser comprovado como sendo da minha mãe”. A versão é bem diferente da do “Pop”.

O “Pop” informa que, no dia em que desapareceu, Deise Faria Freitas teria tomado o chá: “Durante o ritual, os cinco membros tomaram o chá ayahuasca, entre eles, Deise” (a vírgula entre “eles” e “Deise” é desnecessária). À mãe, Marilu Rosa de Faria, Deise Faria Freitas disse que não tomaria o chá, mas bebeu, segundo Cláudio Pereira Leite, no registro do “DM”.

O “Diário da Manhã” garante que o nome da enfermeira é Deise Faria Ferreira. O “Pop” assegura que é Deise Farias Freitas (num cartaz de “procura-se” aparece a grafia apresentada pelo “DM”, Deise Faria Ferreira; se estiver certo, o “Pop” errou duas vezes — não seria “Farias” nem “Freitas”). O nome de um dos suspeitos da morte (a polícia parece ter certeza que ela não está viva) ganha duas grafias; Antônio Deivid dos Santos Filho (“Diário da Manhã”) e Antônio David dos Santos Filhos (“O Popular”).

O “DM” apresenta uma informação relevante — Deise Faria Freitas teria pressão alta — que o “Pop” aparentemente desconhece. Estaria tomando medicamentos para hipertensão e ansiolítico.

O “Diário da Manhã” publica uma fotografia em que aparecem juntos Cláudio Pereira Leite e Antônio Deivid dos Santos Filho. O “Pop” publica a foto de Cláudio Pereira Filho, mas os óculos escuros impedem a identificação. “O Popular” mostra a fotografia da casa da chácara — um sobrado. Os dois jornais publicam fotografias de Deise Faria Freitas.

Há problemas de revisão na reportagem do “Diário da Manhã”. A repórter diz que Deise Faria Freitas, ao tomar o chá ayahuasca, ficou “desconsertada” (na verdade, desconcertada) e que a enfermeira “desejava voltar trabalhar”. O artigo “a” entre voltar e trabalhar não é descartável. Há outros problemas no texto.