Cecilia Flesch, e o sobrenome é sugestivo, era, ao lado de alguns colegas, uma espécie de “alma” da GloboNews. Estava em todas, ou em quase todas — sugerindo ser workaholic. Porém, bastaram 15 segundos de inglória, depois de uma fala enviesada no podcast “É Noia Minha”, para que fosse demitida pelo Grupo Globo.

A jornalista disse que a GloboNews “está um saco. Só tem política e economia, economia e política, política e economia”. Nos bastidores, a emissora é chamada, pelos colegas, de “RivoNews” (referência a Rivotril, um ansiolítico muito receitado por psiquiatras). É possível que a repórter e apresentadora esteja se referendo às pressões das chefias.

A demissão é merecida? Do ponto de vista da empresa, de seu ideário, talvez sim. Mas tudo indica que Cecília Flesch fez dois “diagnósticos” que a cúpula da GloboNews terá de levar em conta, quer queira ou não. E, se não agora, mais tarde.

Primeiro, o jornalismo da emissora precisa ser mais diversificado, e, no momento, não é. A jornalista tem razão: é preciso ir além das pautas políticas e econômicas. André Trigueiro e Fernando Gabeira até incluem a pauta ambiental. Mas falta, no geral, grandes reportagens. A GloboNews precisa seguir os passos de Pedro Álvares Cabral e descobrir o Brasil. O país é muito mais do que Brasília, Sampa, Rio, o governo de Lula da Silva e o Congresso.

Segundo, é preciso criar um espaço de convivência mais saudável nas redações. Não há trabalho, em nenhum lugar, sem pressões. Porém, quando excessivas, geram desequilíbrios nas equipes. Pode-se até aumentar a produção, mas não a produtividade. Produzir com qualidade exige cobrança, mas também temperança, paciência, diálogo e, até, afeto.

A direção da Globo puniu, ao demitir Cecilia Flesch, a verdade — o que é grave. É preciso criar espaço, nas empresas de comunicação, para a crítica, não só a crítica que atinja políticos e empresários, mas também aos jornais e emissores de rádio e televisão.

A crítica de Cecilia Flesch pode até incomodar, mas não arranca “pedaços” da Globo. A mão pesada da diretoria, punindo-a para impedir outros depoimentos, é um desestímulo à coragem dos profissionais. E jornalista precisa ter talento, seriedade e coragem.