O ex-presidente ligou para Jaques Wagner e disse que havia dito a Mino Carta para escrever artigo atacando Sergio Moro. Pouco depois, a revista publicou dois artigos criticando o juiz e a Polícia Federal

Lula da Silva e Mino Carta: há um pacto ideológico, que data da década de 1980 e é marcado pela  ética da convicção, entre o ex-presidente da República e o diretor de redação da revista “CartaCapital”
Lula da Silva e Mino Carta: há um pacto ideológico, que data da década de 1980 e é marcado pela
ética da convicção, entre o ex-presidente da República e o diretor de redação da revista “CartaCapital”

Gravações feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, sugerem que o ex-presidente Lula da Silva se apresenta para seus aliados como uma espécie de “chefe de reportagem” (“pauteiro” ou redator-chefe) informal da revista “CapitalCapital” e que percebe Mino Carta como um de seus epígonos das letras.

Numa conversa com Jaques Wagner, ministro-chefe da Casa Civil do governo da presidente Dilma Rousseff, Lula da Silva conta que pediu ao diretor de redação da “CartaCapital”, Mino Carta, que escrevesse um artigo sobre as manifestações de rua no domingo, 13. As palavras exatas do ex-presidente: “Acabei de conversar com o Mino Carta aqui pra ele escrever um artigo, mostrando que teve duas coisas nesse movimento”. Primeiro, Lula admite o quadro real, as pessoas querem que o combate à corrupção continue. A segunda “coisa” era uma crítica contundente ao juiz Sergio Moro, de Curitiba.

Lula da Silva frisa que Sergio Moro “representa isso” (o combate à corrupção) “fortemente”, o que, em sua opinião, equivale à “negação da política”.

Terminada a conversa de Lula da Silva e Jaques Wagner, o portal da “CartaCapital” publicou, como o primeiro havia encomendado, dois editoriais de Mino Carta — “O patético complô” e “Conspiração policial”.

Em “O patético complô”, Mino Carta denuncia o que chama de “apavorante conjunto de desmandos” [as ações da polícia Federal, determinadas pela Justiça, contra Lula da Silva e seus familiares], “não poderia faltar a intervenção providencial do juiz Sergio Moro, que há dois anos, graças ao Altíssimo, rege o destino do país”.

Nos grampos, Lula da Silva fala na República de Curitiba — uma ficção petista. Pois um editorial de Mino Carta, escrito sob ordens de Lula, pelo menos é o que sugere o ex-presidente, assinala: “Da conspirata em marcha, vislumbro de chofre três QGs, em recantos distintos. Número 1, escancarado, em Curitiba, onde três delegados dispõem da pronta conivência do Ministério Público e da vaidade provinciana do juiz Sérgio Moro, tão inclinado a se exibir quando os graúdos lhe oferecem um troféu”.

Mino Carta é um jornalista decente
Não se pense que Mino Carta é corrupto financeiramente. Não é. Em termos financeiros, é decente e, dizem, leva uma vida relativamente espartana. Não há nada que o desabone. A identificação com Lula da Silva é ideológica. Ele defende o PT e o ex-presidente por convicção. Seus adversários dirão: “Mas ele fatura alto no governo de Dilma Rousseff”. Na verdade, as publicações mais críticas do governo petista faturam muito mais do que a revista editada pelo jornalista de 82 anos, nascido em Gênova, na Itália. O presidente-general João Figueiredo uma vez disse que não tinha nenhuma simpatia por Mino Carta, mas que o jornalista era decente. Continua decente e, apesar de proteger o PT e Lula, é um grande jornalista. Ele é o criador da “Quatro Rodas” (sem saber dirigir), da “Veja”, da “IstoÉ”, da “Senhor”, do jornal “República” e da “CartaCapital”. Sem contar que foi responsável por tornar o “Jornal da Tarde” (extinto) num grande veículo de comunicação.

Em vários casos, e não sei se é o de Mino Carta, o que há é uma certa corrupção moral, não necessariamente financeira.