O dia em que Orestes Quércia antecipou Collor e Bolsonaro e atacou um jornalista do Estadão

14 abril 2020 às 15h33

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A “Veja” e o “Estadão” apontaram o enriquecimento do ex-governador de São Paulo. Ele xingou o jornalista de “safado” e “canalha”

Fernando Collor, quando presidente, era truculento com a imprensa? Era. Seu governo chegou a “invadir” a “Folha de S. Paulo”, alegando que a empresa Folha da Manhã tinha problemas fiscais. Na verdade, era uma vingança em razão do jornalismo crítico da publicação da família Frias de Oliveira. Arrependeu-se, mais tarde. Ele era filiado ao PSL da época, quer dizer, ao PRN. Partido da Reconstrução Nacional. Há quem reclame — e com razão — da truculência do presidente Jair Bolsonaro. Ele é frequentemente grosseiro, assim como o ex-presidente Lula da Silva — que convocou as mulheres de “grelo duro” do PT para defendê-lo. Curiosa ou sintomaticamente, as feministas do petismo não apresentaram nenhum protesto, como se o petista-chefe tivesse o direito de dizer qualquer coisa e, ainda assim, ser louvado.
Orestes Quércia, que derrotou o empresário Antônio Ermírio de Moraes — talvez no maior erro político do eleitorado paulista — na disputa para o governo do Estado de São Paulo, também era agressivo com a imprensa. O líder do MDB, que morreu em 2010, entrevistado pelo “Roda Viva”, da TV Cultura, sequer permitiu que um jornalista do “Estadão” concluísse uma pergunta e prontamente começou a desqualificá-lo.
Quando o jornalista começava a falar, dizendo que as denúncias haviam sido publicadas pela revista “Veja” — que lhe deu capa para expor seu imenso patrimônio — e “O Estado de S. Paulo”, Quércia o interrompia: “Mentira, mentira da ‘Veja’ e de seu jornal [o “Estadão”], caluniador, mentiroso, safado, canalha”. É assustador.
O jornalista tentou, pacientemente, continuar perguntando. Até perder a calma e também atacar Quércia, devolvendo-lhe os insultos.
Orestes Quércia foi vereador, prefeito de Campinas, deputado estadual, senador, vice-governador e governador de São Paulo. Numa série de reportagens, a “Veja” registrou que havia se tornado um homem rico.