A imprensa fez uma opção por Ganso, o introvertido, mas quem se firmou como craque foi o extrovertido jogador do Paris Saint-Germain

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A imprensa patropi parece manter um pacto faustiano com um modo meio depressivo de ser. Quando Neymar e Ganso surgiram, a maioria dos jornalistas esportivos fez opção pelo segundo, ainda que reconhecendo que o primeiro também era craque (curiosa e sintomaticamente, as ruas preferiam Neymar). O introvertido Ganso é bom jogador, mas não se firmou como o cracaço esperado por (quase) todos. O extrovertido Neymar, pelo contrário, se tornou um craque universal.

Neymar parece incomodar, e não só jornalistas. Por que será? Talvez pelo seu comportamento dionisíaco, festeiro. Homem bonito, charmoso e rico, o jogador do Paris Saint-Germain é alegre em e fora de campo. Adora dinheiro, por certo, porque ninguém é de ferro. Mas joga também por prazer. Tem espírito de peladeiro. Felizmente, seu pai tem espírito de banqueiro. Tachá-los, pai e filho, de “mercenários” é ignorar que o futebol é uma indústria, um negócio. O jogador que não se tornar empreendedor, um capitalista, tende a sucumbir. É um contrassenso cobrar que o jogador seja romântico e só o clube, realista.

Quando Neymar saiu do Barcelona, optando pelo Paris Saint-Germain, o chororô, inclusive na mídia, foi geral. O atacante teria feito um mau negócio, em termos de futebol, porque o time espanhol é muito superior ao clube francês. Pois, com a saída do brasileiro, nem mesmo Messi, jogador extraordinário (há nele uma gota de Ganso), consegue elevar o moral do notável escrete da Catalunha. Quanto ao Paris Saint-Germain, pós-Neymar, se tornou uma festa.

Ouvir os parisienses gritarem “Neymar! Neymar! Neymar”, jovem negro — moreno (ou mulato), dirão —, soando como “Reymar! Reymar! Reymar!”, é sempre um prazer. Os reis de outrora transformaram o plebeu dos trópicos em rei. Neymar, o novo rei de Paris, certamente seria saudado por Hemingway e Gertrude Stein com uma festa.