O cãozinho magro do pet shop de Goiânia: como o “jornalismo de Facebook” pode destruir reputações

18 julho 2015 às 12h03

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Mesmo com apuração posterior do quadro real de um boato, a velocidade de propagação da notícia falsa e prejudicial é muito maior do que a da publicação de qualquer correção

das poucas criaturas ainda capazes de causar extrema comoção | Arquivo pessoal
O “efeito manada” nas redes sociais vitimou, na semana passada, um pet shop em Goiânia. A foto de um cachorro da raça boxer com costelas à mostra foi exposta no Facebook, gerando revolta entre os internautas, que passaram a compartilhá-la até que se tornou um “viral” (vídeo ou notícia que se espalha rapidamente, como um vírus costuma fazer).
Pelo ângulo em que foi clicada e pela posição do animal, a primeira impressão era de que ele estava doente e desnutrido. Sendo assim, a loja estaria sendo negligente com seus bichos. Colaborando para a propagação dos milhares de compartilhamentos estavam personalidades como a apresentadora Luisa Mell e a atriz Yasmin Brunet. Interessante como duas criaturas — animais e crianças (estas, desde que não sejam menores infratores, para os quais a condescendência é geralmente nula) — ainda costumam sensibilizar acima da média os usuários de redes sociais.
Coube ao jornalismo convencional apurar o que o “jornalismo de Facebook” gritou sem verificar. E então souberam que a loja Vida de Cão, no Goiânia Shopping, está com toda a documentação regular, sob administração de uma veterinária, Luciana Meguerditchian, e que nenhuma fiscalização já feita lá havia encontrado qualquer irregularidade.
Veículos de grande alcance, como o jornal “O Popular” e a TV Anhanguera, fizeram o papel de corretores da equivocada informação inicial das redes sociais. Mas a velocidade de propagação da notícia falsa e prejudicial é muito maior do que a da publicação de qualquer correção. Muitos dos que leram a versão que viralizou — a de que um animal estava sofrendo maus-tratos em uma loja situada em um dos principais shoppings da cidade — não tiveram acesso à retificação — a de que não era nada disso. Quem vai arcar com o prejuízo da empresária?
Não é a primeira vez que postagens irresponsáveis em redes sociais trazem efeitos danosos. Mesmo que haja um “pedaço de verdade”, grande ou pequeno, em cada uma dessas histórias — como, por exemplo, no caso da carne estragada em uma churrascaria da capital —, não será, ainda assim, uma apuração adequada dos fatos. Mais um motivo para multiplicar os cuidados ao compartilhar algo que possa afetar um suposto “vilão”. Até por esse poder mesmo não passar apenas de ser “suposto”.