Nova tradução de “Stoner”, de John Williams, será lançada pela Editora Arte e Letra
06 agosto 2023 às 00h01
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“Stoner”, do escritor americano John Williams (1922-1994), é um dos grandes romances do século 20 — por vezes, subestimado pela crítica especializada, mas não pelos leitores.
Lançado pela extinta Editora Rádio Londres, em 2015, “Stoner” esgotou-se rapidamente e só pode ser encontrado em sebos. No Estante Virtual, o preço vai de 130 a 400 reais.
Mas o eleitor menos avexado não precisa participar de nenhum leilão, pois, até o fim do ano, “Stoner” sairá, com nova tradução, feita pelo escritor Lucas Lazzaretti, pela Editora Arte e Letra, de Curitiba.
O editor da Arte e Letra, Thiago Tizzot, disse ao jornal “Estado de Minas”: “Fui atrás do agente e confirmei que os direitos estavam livres no Brasil. Então, como foi uma leitura que me marcou muito, decidimos pelo lançamento”.
O crítico literário Rodrigo Casarin, do blog Página Cinco, disse: “‘Stoner’ é um retrato triste e melancólico da existência de pessoas que são apenas levadas pelas circunstâncias que as cercam. Impressionam no livro a composição do personagem e as pequenas intrigas cotidianas que conseguem deixar o leitor agarrado à narrativa”.
Lucas Lazzaretti assinala, com precisão: “Esse livro é caracterizado por um estilo sóbrio que tende a uma neutralidade narrativa que, no entanto, encobre a profundidade com que consegue descrever a existência do personagem. A dureza dos hábitos é espelhada na prosa direta e sem muitos adornos. A vida comum de um professor universitário qualquer, contudo, é descrita em suas nuances e no que há de mais humano, ou seja, a fragilidade, a insegurança, as paixões e o amor”.
“Butcher’s Crossing”, “Stoner” e “Augusts” são avaliados pelo crítico Morris Dickstein como “surpreendentemente diferentes no que tange ao tema”. Porém, acrescenta, “mostram um arco narrativo semelhante: a iniciação de um jovem, rivalidades masculinas cruéis, tensões mais sutis entre homens e mulheres, pais e filhas, e, finalmente, uma sensação sombria de decepção, até futilidade”.
Para Morris Dickstein, “Stoner” é um “romance perfeito, tão bem contado e lindamente escrito, tão profundamente comovente que te deixa sem fôlego”.
O escritor John McGahern escreveu, na introdução de “Stoner”: “O entretenimento em ‘Stoner’ é de uma ordem elevada, que o próprio Williams descreveu como ‘uma fuga para a realidade’, bem como dor e alegria. A clareza da prosa é, em si, uma alegria autêntica”.
No “The York Times Magazine, Steve Almond assinalou: “Nunca encontrei um trabalho tão implacável em sua devoção às verdades humanas e tão tenro em sua execução”.
Charles J. Shields é autor de uma biografia do escritor, inédita no Brasil: “The Man Who Wrote the Perfect Novel: John Williams, Stoner, And The Writing Life”. É a história de um autor altamente vocacionado para a literatura que nem mesmo o alcoolismo conseguiu travar.
Além de uma prosa refinada, John Williams escreveu poesia, infelizmente inédita em português. Doutor em literatura inglesa, ele foi professor de escrita criativa na Universidade de Denver, no Colorado. Morreu de insuficiência respiratória, aos 71 anos.
Numa entrevista de 1986, John Williams, inquirido se “a literatura é escrita para entreter?”, redarguiu, de maneira peremptória: “Absolutamente. Meu Deus, ler sem alegria é estúpido”.
Trecho da tradução de Lucas Lazzaretti para a Arte e Letra
“Após algumas semanas, teve pouca dificuldade com as disciplinas de ciência; havia tanto trabalho para se fazer, tantas coisas para lembrar. A disciplina de química do solo o interessou de modo geral; não lhe havia ocorrido que os torrões acastanhados com os quais ele trabalhara pela maior parte da sua vida eram outra coisa do que pareciam ser, e começou a notar vagamente que seu crescente conhecimento sobre eles poderia ser útil quando retornasse à fazenda do seu pai. Mas a disciplina introdutória de literatura inglesa o perturbou e incomodou de um modo que nunca antes sentira.”