Nobel de Literatura, o escritor japonês Kenzaburo Oe morre aos 88 anos
13 março 2023 às 09h44
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O escritor japonês Kenzaburo Oe morreu no dia 3 de março, ainda que a imprensa só tenha noticiado o caso mais tarde. A Editora Kodansha informou: “Ele morreu de velhice”. O Prêmio Nobel de Literatura de 1994 tinha 88 anos.
Em 1945, os Estados Unidos jogaram bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, matando milhares de pessoas. O Japão ficou chocado. Kenzaburo Oe, então um jovem de 10 anos, ficou abalado. Porém, não aderiu ao culto ao imperador e ao passado fascista do país. Pelo contrário, ao se tornar adulto, alinhou-se às correntes democráticas, pacifistas e antinucleares. Avaliava que a paz e a democracia são os caminhos naturais para o Japão e para o mundo. O autor de “Uma Questão Pessoal” era um não-conformista.
Kenzaburo Oe, um cosmopolita que entendia muito bem o Japão e sua diversidade, estudou literatura francesa na Universidade de Tóquio, a mais importante do país.
“Arranque as Sementes, Atire nas Crianças” é apontado como seu primeiro grande romance. Trata de um relato sobre crianças que vivem em um centro correcional durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Com o nascimento do filho Hikari (“Luz”), em 1963, a vida e a literatura de Kenzaburo Oe ganharam novos contornos. O menino era deficiente. “Escrever e viver com meu filho se sobrepõem e essas duas atividades só podem se aprofundar. Eu disse a mim mesmo que é aqui que definitivamente minha imaginação pode tomar forma”, relatou.
No romance “Uma Questão Pessoal”, de 1964, ele conta as agruras de um pai com seu bebê deficiente. É a história de Kenzaburo Oe. O livro saiu no Brasil pela Editora Companhia das Letras e foi muito lido e bem recepcionado pela crítica literária. Nele o personagem — o escritor — admite que chegou a pensar em matar o menino. Não o fez, porém; porque, apesar de tudo, o amava. O escritor deixa sua mulher, Yukari, e três filhos.
No livro “Notas de Hiroshima”, de 1965, Kenzaburo Oe reuniu testemunhos da tragédia de 6 de agosto de 1945. Neste dia, o governo de Harry Truman, presidente dos Estados Unidos, jogou uma bomba atômica na cidade de Hiroshima. Esta é uma cicatriz que não fecha na história dos japoneses. Está sempre “sangrando” — na vida real e nas artes.
A literatura da japonesa é de alta qualidade. Yukio Mishima (visto como Proust e Thomas Mann do Oriente), Yasunari Kawabata, Junichiro Tanizaki, Natsuo Kirino, Sayaka Murata, Yoko Ogawa, Kanae Minato e Karuki Murakami são alguns dos principais escritores do Japão. Frise-se que, entre os homens, que são mais conhecidos, há escritoras mulheres de muito talento, como Natsuo Kirino, Sayaka Murata, Yoko Ogawa e Kanae Minato.
Kenzaburo Oe, com sua prosa moderna e atenta ao tempo histórico, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1994. A Academia Sueca explicou que mereceu a premiação por criar literatura “com grande força poética”, acrescentando que gerou “um mundo imaginário onde vida e mito se condensam para formar um retrato desconcertante da frágil situação humana”.
Os livros de Kenzaburo Oe são publicados no Brasil pela Editora Companhia das Letras e pela Editora Estação Liberdade, com tradução direta do Japonês. Entre seus tradutores estão Jefferson José Teixeira, Leiko Gotoda e Shintaro Hayashi.