Nobel de Economia diz que oligarcas “de” Putin “furtam” a Rússia e o povo russo

02 março 2022 às 16h26

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“Em 2015, a riqueza estrangeira oculta dos russos ricos correspondia a cerca de 85% do PIB do país”, afirma professor da Universidade de Nova York
O economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia de 2008 e professor da Universidade de Nova York, diz que, se tiverem vontade, as potências ocidentais, como os Estados Unidos e o Reino Unido, poderão acossar a Rússia de verdade, e não de mentirinha. Excluir a Rússia do Swift, “o sistema belga para pagamento entre bancos internacionais”, é o primeiro passo. Mas as “democracia avançadas”, postula o mestre americano, “podem ir atrás da vasta riqueza estrangeira dos oligarcas que cercam Putin e o ajudam a permanecer no poder. (…) Há tanto dinheiro russo altamente visível no Reino Unido que algumas pessoas falam sobre ‘Londongrado’”.

Citados por Krugman, os economistas Filip Novokmet, Thomas Piketty e Gabriel Zucman apuraram que “a Rússia registra enormes superávits comerciais todos os anos desde o início dos anos 1990 — o que deveria ter levado a um grande acúmulo de ativos no exterior”. Porém, frisa o economista, “a estatísticas oficiais mostram a Rússia com apenas um pouco mais de ativos do que passivos no exterior. Como isso é possível? A explicação óbvia é que os russos ricos estão roubando grandes somas e as estacionando no exterior”.
Krugman afirma que, de tão grandes, “as somas envolvidas são incompreensíveis”. Filip Novokmet e os outros dois economistas “estimam que, em 2015, a riqueza estrangeira oculta dos russos ricos correspondia a cerca de 85% do PIB do país. Para dar alguma perspectiva, é como se os comparsas de um presidente do Estados Unidos tivessem conseguido esconder 20 trilhões de dólares em contas no exterior”.

Reprodução
Um artigo de Gabriel Zucman, escrito em parceria, informa “que, na Rússia, ‘a grande maioria da riqueza no topo da pirâmide é mantida no exterior”. Noutras palavras, a Rússia — os russos — está sendo roubada e o dinheiro, trilhões, é mantido noutros países. Para a segurança — relativa — daqueles que estão furtando um país e um povo.
O detalhe é que, segundo Krugman, “os governos democráticos podem ir atrás desses ativos. A base legal já existe, por exemplo, na legislação chamada de Ato para Combater o Inimigos dos Estados Unidos por meio de sanções, assim como a capacidade técnica”. O economista enfatiza que “há meios para colocar uma enorme pressão financeira sobre o regime de Putin (em oposição à economia russa)”. Porém, o Nobel de Economia insiste num ponto: “Mas há vontade? Essa é a questão do trilhão de rublos”.

Krugman anota que há dois fatos não confortáveis. “Primeiro, várias pessoas influentes, tanto nos negócios quanto na política, estão profundamente enredadas financeiramente com cleptocratas russos. Isto é especialmente verdade no Reino Unido. Em segundo lugar, será difícil ir atrás de dinheiro russo levado sem tornar a vida mais difícil para todos os lavadores de dinheiro, de onde quer que venham — e embora os plutocratas russos possam ser os campeões mundiais nesse esporte, eles não são os únicos”. Ou seja, o que se pegará não será tão-somente os russos, mas um sistema que beneficia muita gente graúda, inclusive no Brasil.
A conclusão de Krugman é dura (e realista): “O que isso significa é que tomar medidas efetivas contra a maior vulnerabilidade de Putin exigirá enfrentar e superar a própria corrupção do Ocidente. O mundo democrático poderá enfrentar esse desafio? Descobriremos nos próximos meses”.
A base deste texto é o artigo “Lavagem de dinheiro, a fragilidade de Vladimir Putin”, de Krugman, publicado no “New York Times” e republicado no Brasil em “O Estado de S. Paulo” (na edição de 26 de fevereiro).
Leia mais sobre o presidente russo Vladimir Putin, ex-agente do KGB
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