A jornalista da Globonews deu ao tricampeão de F-1 as palavras necessárias depois das declarações absurdas divulgadas recentemente

A jornalista Aline Midlej deu a melhor resposta a Nelson Piquet sobre as declarações racistas contra Lewis Hamilton | Foto: Reprodução

Tricampeão mundial de Fórmula 1, Nelson Piquet foi um gigante das pistas. É um dos maiores pilotos de todos os tempos e de autoria dele aquela que é considerada a ultrapassagem mais bela da história da categoria, no Grande Prêmio da Hungria de 1986 – sobre outro gigante (de uma estatura um pouco maior no esporte, diga-se) chamado Ayrton Senna.

Infelizmente, as “obras” do brasileiro quase setentão (faz aniversário dia 17 de agosto) fora das pistas nunca foram tão dignas do que ele apresentava pelos circuitos do mundo. Quando ainda estava na ativa, ficaram célebres declarações de, no mínimo, mau gosto sobre seus adversários.

Os três principais foram Ayrton Senna, Alain Prost e Nigel Mansell. E disse várias coisas nefastas sobre cada um.

Sobre Mansell, seu companheiro durante dois anos na equipe Williams, falou que ele gostava de “mulher feia”, fazendo alusão à esposa do piloto inglês. Também disse que o britânico era um “idiota veloz”.

O francês Prost também foi uma vítima do conceito estético de Piquet, mas não só isso: “Ele é um cara que, como é aparentemente muito feio, fica amigo do cara para comer a mulher do cara”, disse certa vez.

Já o outro tricampeão mundial brasileiro, Ayrton Senna, sempre foi um dos principais desafetos de Piquet, que nunca se conformou com o estilo mais midiático do compatriota. Com desentendimentos também nas pistas, acabou plantando vários boatos maldosos sobre o rival, entre eles o de que ele não gostava de mulher. Em uma entrevista ao lado de Mansell, quando o ex-colega visitou o Brasil, anos atrás, Piquet respondeu à dúvida do repórter sobre quem era melhor, ele ou Senna, com a seguinte pérola, que considerou uma boa tirada: “Eu ainda estou vivo.”

Muitas outras foram as “vítimas” da língua até então apenas ferina de Nelson Piquet: Jean-Marie Balestre, ex-presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA); o narrador Galvão Bueno; o também piloto Rubens Barrichello; e muitos mais.

Nunca, porém, o esculacho verborrágico do hoje empresário bolsonarista – chegou a ser motorista do Rolls-Royce presidencial no desfile do 7 de Setembro de golpe frustrado – nunca havia ido tão longe quanto ocorreu na entrevista que concedeu a um canal de YouTube.  e que, apesar de ter ido ao ar ainda no ano passado, só viralizou na semana passada. Ao explicar uma batida entre o inglês Lewis Hamilton e o holandês Max Verstappen – namorado da filha de Piquet –, o brasileiro chama várias vezes o heptacampeão de F-1 de “neguinho”.

A repercussão foi imensa. A FIA e o mundo do automobilismo em geral repudiaram a fala racista do brasileiro. Da mesma forma, a imprensa nacional deu grande cobertura ao episódio. A melhor reação, no entanto, ficou por conta da jornalista Aline Midlej, apresentadora da Globonews, que, ao finalizar a matéria sobre o assunto, deu ao piloto a característica que sua fala lhe impôs: “A nossa produção procurou a assessoria do Nelson Piquet, mas não teve resposta. Mas ele, como racista que foi e que é… Recebeu a resposta que merecia!”, disse. E, para entrar na matéria seguinte, uma nova alfinetada: “E com uma classe, a resposta, claro, que ele nunca terá, com certeza. E neste dia do Orgulho LGBTQIA+ vamos focar em mudar a mentalidade, como disse Lewis Hamilton na resposta ao racismo do Nelson Piquet”.

Negra e muito segura, apesar de relativamente nova como destaque da Globo, Aline fez o que se deve fazer nessas situações: chamar o que é pelo nome que é. Não há por que dar o mesmo espaço ou “ver o outro lado” em situações de ataque como a que protagonizou o competente piloto e inconsequente cidadão.

Dias depois, o site Grande Prêmio descobriu um trecho ainda pior da mesma entrevista. Piquet falava da temporada de 1982 em que defendia seu primeiro título, conquistado no ano anterior, e o papo chegou em Keke Rosberg, que acabou como campeão. A ofensa ao finlandês só não foi pior do que os termos que usou para se referir a Hamilton como melhor piloto que o filho dele, Nico Rosberg:

“O Keke? Era um bosta, não tinha valor nenhum. É que nem o filho dele [Nico]. Ganhou um campeonato… O neguinho devia estar dando mais c* naquela época, aí tava meio ruim”

Além do mesmo racismo, agora também uma terrível homofobia. Grandíssimo no que fazia nas pistas, Nelson Piquet preferiu priorizar as polêmicas durante sua carreira. Agora, em um nível mais radical, à beira do criminoso, faz tudo para que suas conquistas se tornem cada vez menores diante do poder maligno de suas falas.