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Dilma Rousseff e Richard Nixon: o segundo cometeu erros, mas é um estadista; a primeira não terá um lugar ao lado de Getúlio Vargas e JK

A “New Yorker”, mais prestigiosa revista de cultura dos Estados Unidos, comparou a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, com o ex-presidente americano Richard Nixon. Há mesmo “parentesco” político entre ambos? Só em parte.

A despeito do que aconteceu, a história de Richard Nixon tem sido reavaliada. É possível sugerir que merece figurar entre os grandes presidentes americanos — e será muito difícil inserir Dilma Rousseff entre os principais presidentes brasileiros, como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Se sofrer impeachment, e mesmo se escapar ao julgamento do Congresso, terá um lugar, é provável, ao lado de Fernando Collor, que foi impedido, em 1992.

Seu lugar não será nem mesmo ao lado de Lula da Silva.

Richard Nixon teve consciência geopolítica para retirar os Estados Unidos do atoleiro chamado Vietnã, quando não se acreditava que um presidente de direita — uma espécie de Donald Trump com cultura — pudesse fazer isso. Abriu conversações políticas e comerciais com a China, o que possibilitou que o país asiático se tornasse um pouco mais aberto. Tratava-se de um estadista.

Mas há grandes políticos que, por vezes, pensam pequeno (é o caso de Lula, que é maior do que seu comportamento, em alguns casos, enuncia). Richard Nixon é um deles. O presidente estava envolvido, até a medula, com atividades ilegais, como o grampo na sede do Partido Democrata, no edifício Watergate. Os homens que entraram no escritório político dos democratas eram aloprados, mas não eram quaisquer aloprados — eram homens escolhidos por Richard Nixon, fora do esquema oficial (CIA e FBI), para espionar os democratas.

Com o apoio de um diretor adjunto do FBI, Mark Felt, repórteres do “Washington Post”, notadamente Bob Woodward, publicaram centenas de reportagens sobre os malfeitos de Richard Nixon e seus aliados. O presidente, se não renunciasse, sofreria o impeachment. Sobretudo, era presidente, mas não administrava mais — havia um descompasso entre o governante e a nação, que é o mesmo que está ocorrendo no Brasil, com Dilma Rousseff. Sob pressão, com a imprensa denunciando-o diariamente, o líder do Partido Republicano renunciou.

Ao contrário de Richard Nixon, a presidente Dilma Rousseff não operou pessoalmente os malfeitos de seu governo. Pegou uma estrutura montada, não participou diretamente dela, mas nada fez para desmontá-la. Tal estrutura garantiu três vitórias presidenciais para o PT — a primeira, em 2002, possivelmente não. Uma para Lula e duas para a petista. Mas, como o presidente americano, se não quiser sofrer o impeachment, terá de renunciar (ela frisa que não renuncia). Se continuar no governo, terá o Brasil contra e não conseguirá debelar a crise econômica, que, na raiz, é cada vez mais política. Para o país voltar aos eixos e se tornar um local de investimentos seguros, o próximo presidente, seja Michel Temer ou outro, precisará ter credibilidade — o que Dilma não tem mais.