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Quando um tradutor morre perde-se um embaixador cultural, uma ponte entre países e culturas.

O tradutor Sergio Flaksman morreu na terça-feira, 13, aos 73 anos, de complicações derivadas de Covid-19. Ele estava internado.

Na internet, apresentava-se assim: flamenguista (ninguém é perfeito), antifascista (depois do bolsonarismo, espécie de fascismo infanto-juvenil, é preciso se apresentar assim) e tradutor. Diria que, acima de tudo, era tradutor (e quase coautor). Sob sua batuta os livros de Truman Capote, Philip Roth, D. H. Lawrence (a tradução de “O Amante de Lady Chatterley” é excelente), Martin Amis, William Kennedy (belíssimo escritor, que precisa ser mais estimado), J. M. Coetzee, Joseph Conrad chegaram “íntegros” à Língua Portuguesa. Foram tão bem traduzidos que fica-se com a impressão de que escreviam em português, mas o leitor atento perceberá que a estranheza de cada um, que talvez se possa chamar de estilo ou identidade, é mantida e, digamos, realçada.

Percebi que Sergio Flaksman era um tradutor de primeira linha ao comparar a sua tradução de “Sangue Frio” com a do jornalista e escritor Ivan Lessa.

Não há dúvida de que a tradução de Ivan Lessa é ótima, de uma fluência rara. Os problemas são mínimos e, portanto, não tiram o brilho da versão (psiquiatra se torna psicanalista, escreve-se a “maioria são”, retira-se o acento de “Colmeia” antes da reforma ortográfica, e outros pecadilhos).

Já a tradução de Sergio Flaksman se aproxima da perfeição. É precisa e fluente. Ivan Lessa certamente a aprovaria e, quem sabe, admitiria que a sua ficou, ao menos em parte, datada.

Curiosamente, Sergio Flaksman começou sua “carreira” de tradutor com um romance (uma novela, quiçá) de Truman Capote, “Bonequinha de Luxo”, que saiu, em 1968, pela Nova Fronteira.