Morre Rubem Fonseca, o rei do romance policial no Brasil. Tinha 94 anos

15 abril 2020 às 15h17

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Pode-se dizer, sem medo de errar, que o escritor levou o modernismo ao romance policial, dotando-a de uma finura rara

Rubem Fonseca, que morreu nesta quarta-feira, 15, de infarto, aos 94 anos (faria 95 anos no dia 11 de maio), não chegava a ser um J. D Salinger, mas não dava entrevista nem tinha paixão por ser fotografado. Porém, diferentemente do escritor americano, era extremamente prolífico, com uma prosa de qualidade média praticamente insuperável. Talvez seja possível sugerir que, ao menos no Brasil, ele reinventou o romance policial.
As histórias de Rubem Fonseca podem até ser brutais, às vezes fesceninas. Mas são, quase todas, salvas por sua escrita refinada. Pode-se dizer, sem medo de errar, que o escritor levou o modernismo ao romance policial, dotando-o de uma finura rara.
Por escrever tão bem quanto os melhores prosadores da Língua Portuguesa, Rubem Fonseca não ficará circunscrito ao “grupo” de escritores de romances policiais. Sua prosa o incluirá, por certo, na galeria de Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles.
José Rubem Fonseca, mineiro de juiz de fora e carioca por adoção, deu status de alta literatura ao romance policial. Aliás, os contos também são, em regra, de primeira linha.
“Agosto” é, claro, romance, e, digamos, uma ótima interpretação do Brasil, partir do governo democrático de Getúlio Vargas, o presidente que se suicidou em 1954 — evitando o golpe que seu apadrinhado João Goulart não conseguiu evitar em 1964, dez anos depois.
“Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos” é um romance no qual fica evidente a erudição do autor, que sabia tudo sobre o escritor russo Isaac Bábel, de quem tem traduziu um conto (e muito bem, segundo Boris Schnaiderman; ainda que não do russo, e sim do inglês).
Rubem deixou uma obra vasta, nem sempre de alta qualidade, mas com uma média qualitativa elevada.
Romances
O Caso Morel (1973)
A Grande Arte (1983)
Bufo & Spallanzani (1986)
Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos (1988)
Agosto (1990)
O Selvagem da Ópera (1994)
E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto (1997)
O Doente Molière (2000)
Diário de um Fescenino (2003)
Mandrake, a Bíblia e a Bengala (2005)
O seminarista (2009)
José (2011)
Contos
Os prisioneiros (1963)
A coleira do cão (1965)
Lúcia McCartney (1969)
O homem de fevereiro ou março (1973)
Feliz Ano Novo (1975)
O cobrador (1979)
Romance negro e outras histórias (1992)
O buraco na parede (1995)
Histórias de amor (1997)
A confraria dos espadas (1998)
Secreções, excreções e desatinos (2001)
Pequenas criaturas (2002)
64 Contos de Rubem Fonseca (2004)
Ela e outras mulheres (2006)
Axilas e Outras Histórias Indecorosas (2011)
Amálgama (2013)
Histórias Curtas (2015)
Calibre 22 (2017)
Carne Crua (2018)
Outros
O romance morreu (crônicas, 2007)