Washington Olivetto afirma que o catalão José Zaragoza elevou o nível da publicidade brasileira

O publicitário espanhol José Zaragoza, o Zara, morreu na segunda-feira, 15, aos 86 anos, em sua casa, no bairro Jardins, em São Paulo. Nascido em Alicante — mudou-se para o Brasil em 1952 —, o catalão se consagrou, ao lado de Roberto Duailibi e Francesc Petit, na agência DPZ. Era e é moda os jornalistas escreverem que era o “Z” da DPZ. Era o artista do visual da requestada agência. Lá criou, ao lado de publicitários, o garoto do Bombril (publicidade longeva, sempre atraente), o franguinho da Sadia e o baixinho da Kaiser (uma das mais divertidas da publicidade patropi) — publicidades que se tornaram icônicas, praticamente um patrimônio nacional. As pessoas adoravam vê-las; possivelmente, dado o YouTube, ainda apreciam-nas.

José Zaragoza, Francesc Petit e Roberto Duailibi: trio que comandou uma revolução na publicidade brasileira com a criação da DPZ

Bruno Rosa e Roberta Scrivano, de “O Globo”, ouviram o publicitário Armando Strozenberg a respeito da obra publicitária de Zaragoza, que era “muito associada às artes plásticas”. “Ele era catalão. Veio para o Brasil e nunca mais voltou. Ele entendeu muito bem o humor brasileiro”, afirma Strozenberg. Poderia ter acrescentado: entendeu e refinou-o. Porque aproveitou o humor, mas deixou a “grosseria” de lado.

Washington Olivetto trabalhou na DPZ entre 1973 e 1986, quando decidiu montar seu próprio negócio. O criador da W/Brasil disse ao “Globo” que Zaragoza e Petit devem ser considerados os “maiores diretores de arte da história da publicidade brasileira”. “José Zaragoza foi um dos fundadores da DPZ, onde todos da minha geração, particularmente eu, aprendemos tudo. Era um criador de belezas. Se amassasse um pedaço de papel na palma da mão, aquela bolota imediatamente virava um objeto de arte”, frisa Olivetto. Um exagero, dada a comoção, mas Zara, a se avaliar pela publicidade da DPZ, era mesmo um gênio da criação.

Ao mudar-se para o Brasil, nos tempos em que Getúlio Vargas era presidente da República, Zaragoza atuou como fotógrafo. O estúdio de design Metro 3 foi seu primeiro negócio, no qual teve como sócios Francesc Petit, também da Catalunha, e Ronaldo Perischetti. A agência DPZ foi criada em 1968, o ano da rebeldia e da liberação da criatividade, por Zaragoza, Petit e Roberto Duailibi. O “Globo” sublinha que “a agência dominou as publicidades nacionais dos anos 70 e ajudou a revelar grandes talentos como Washington Olivetto. Ao longo das décadas, a DPZ criou personagens reconhecidos nacionalmente como o franguinho Lequetreque da Sadia e o tucano da Varig”.

“Apesar de a palavra gênio ter perdido um pouco do seu valor pelo excesso de uso, um profissional que merece sim ser chamado de gênio na publicidade é o Zaragoza. Pelo trabalho à frente da DPZ, agência que formou e continua formando os líderes da nossa comunicação, como artista plástico, como um dos fundadores do Clube de Criação. Uma referência. Uma escola. A publicidade brasileira deve muito do que é a ele. Uma perda enorme”, disse ao “Globo” o presidente da Agência Brasileira de Propaganda (ABP) e diretor da 3ª Worldwide, Álvaro Rodrigues.

A Publicis comprou 70% da DPZ, em 2011, por 120 milhões de dólares. Zaragoza deixou a agência apenas em 2013.

Criador versátil, Zaragoza era pintor e participou de bienais de artes plásticas.