Muere el poeta sueco Tomas Tranströmer, Premio Nobel de Literatura en 2011

O poeta Tomas Tranströmer, de 83 anos, morreu na sexta-feira, 27. Ele ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2011. Nasceu em Estocolmo, em 1931. E havia sofrido um AVC em 1999 (que afetou sua fala).

Consagrado mundialmente como poeta, sobretudo depois do Nobel, Tranströmer era psicólogo e trabalhava com a reabilitação de “delinquentes juvenis”. Trabalhou na prisão juvenil de Roxtuma (Linköping).

Tranströmer publicou poemas em várias revistas. Sua estreia literária ocorreu em 1954, com o livro “17 Dikter”. A crítica sueca considerou-o como uma estreia consistente. Ele estudou História, Literatura, Psicologia e História das Religiões na Universidade de Estocolmo. O bardo tinha um grande interesse pela natureza e pela música. Consagrou-se literariamente com os livros “Hemligheter pa vägen”, de 1958, Klanger Och Spar”, de 1966, e “El Cielo a Medio Hacer” (tradução espanhola), de 2010. A crítica literária sueca o coloca como um par dos grandes poetas dos séculos 20 e 21.

O jornal espanhol “ABC” diz que “o livro ‘Östersjöar’, de 1974, recolhe fragmentos de uma história familiar de Runmarö, uma ilha do arquipélago de Estocolmo no qual seu avô materno trabalhava e onde o menino Tranströmer passou muitos verões. Recordações de sua infância e juventude também são encontradas no livro de memórias ‘Poemas Selectos y Visión de la Memoria’, de 2009”.

O “ABC”, com informação da Reuters, frisa que “sua poesia se caracteriza pela austeridade, a concretude (a realidade) e as metáforas claras e expressivas. Em seus últimos poemários — ‘Gôndola Fúnebre’, de 2000, e ‘Den Stora Gatan’, de 2004 —, Tranströmer avançou para formatos cada vez menores e um maior grau de concentração”.

A poesia de Tranströmer, traduzida para 50 idiomas, é pouco conhecida no Brasil. A Relógio D’Água publicou “50 Poemas” e a Sextante lançou “As Minhas Lembranças Observam-me”. As editoras são de Portugal.

Quatro poemas de Tomas Tranströmer

O poeta João Luiz Barreto Guimarães traduziu e publicou em seu blog (http://poesiailimitada.blogspot.com.br/2011/02/tomas-transtromer.html) quatro poemas de Tomas Tranströmer. Sua tradução é indireta (mas de rara fluência) — feita a partir da tradução espanhola para o livro “Para Vivos y Muertos” (Hiperion, editora da Espanha). Roberto Mascaro e Francisco Uriz são os responsáveis pela tradução do sueco.

A paixão poética de Tranströmer era o autor de “A Terra Devastada”: “O meu pão diário é ‘Quatro Quartetos’ de T. S. Eliot, que mastigo deliciosamente entre os dentes”. A versão espanhola é de 1992

HISTÓRIAS DE MARINHEIROS

Há dias de inverno sem neve em que o mar é parente

de zonas montanhosas, encolhido sob plumagem cinza,

azul só por um minuto, longas horas com ondas quais pálidos

linces, buscando em vão sustento nas pedras de à beira-mar.

 

Em dias como estes saem do mar restos de naufrágios em busca

de seus proprietários, sentados no bulício da cidade, e afogadas

tripulações vêm a terra, más ténues que fumo de cachimbo.

 

(No Norte andam os verdadeiros linces, com garras afiadas

e olhos sonhadores. No Norte, onde o dia

vive numa mina, de dia e de noite.

 

Ali, onde o único sobrevivente pode estar

junto ao forno da Aurora Boreal escutando

a música dos mortos de frio).

(1954)

 

A ÁRVORE E A NUVEM

Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,

com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.

Leva um recado. Da chuva arranca vida

como um melro ante um jardim de fruta.

 

Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.

Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,

à espera, como nós, do instante

em que flocos de neve floresçam no espaço.

(1962)

 

DESDE A MONTANHA

Estou na montanha e vejo a enseada.

Os barcos descansam sobre a superfície do verão.

«Somos sonâmbulos. Luas vagabundas.»

Isso dizem as velas brancas.

 

«Deslizamos por uma casa adormecida.

Abrimos as portas lentamente.

Assomamo-nos à liberdade.»

Isso dizem as velas brancas.

 

Um dia vi navegar os desejos do mundo.

Todos, no mesmo rumo – uma só frota.

«Agora estamos dispersos. Séquito de ninguém.»

Isso dizem as velas brancas.

(1962)

 

PÁSSAROS MATINAIS

Desperto o automóvel

que tem o pára-brisas coberto de pólen.

Coloco os óculos de sol.

O canto dos pássaros escurece.

 

Enquanto isso outro homem compra um diário

na estação de comboio

junto a um grande vagão de carga

completamente vermelho de ferrugem

que cintila ao sol.

 

Não há vazios por aqui.

 

Cruza o calor da primavera um corredor frio

por onde alguém entra depressa

e conta que como foi caluniado

até na Direcção.

 

Por uma parte de trás da paisagem

chega a gralha

negra e branca. Pássaro agoirento.

E o melro que se move em todas as direcções

até que tudo seja um desenho a carvão,

salvo a roupa branca na corda de estender:

um coro da Palestina:

 

Não há vazios por aqui.

 

É fantástico sentir como cresce o meu poema

enquanto me vou encolhendo

Cresce, ocupa o meu lugar.

 

Desloca-me.

Expulsa-me do ninho.

O poema está pronto.

(1966)