O jornalista A. C. Scartezini (Antônio Carlos Scartezini) morreu no domingo, 4, em Brasília, de insuficiência cardíaca. Ele tinha 77 anos. O velório será realizado na segunda-feira, 5, das 11 às 13 horas, na Capela 9 do Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. O corpo, em seguida, será cremado.

Scartezini, o Scarta, trabalhou em vários jornais — como o “Jornal do Brasil”, “O Estado de S. Paulo”, “Folha de S. Paulo”, Jornal Opção, “Correio Braziliense” — e na revista “Veja”.

“Meu pai foi jornalista de política e participou de períodos muito intentos e conturbados da política brasileira. Ele pegou auge da ditadura e, depois, o processo de redemocratização”, diz seu filho Bernardo Scartezini.

 Scartezini publicou os livros “Segredos de Médici” e “Dr. Ulysses”. Como o presidente Emilio Garrastazu Médici não falava com a imprensa, e não deixou registros sobre sua gestão, a obra de Scarta, embora curta, é fundamental para se ter acesso ao que pensava o general. O jornalista chegou a entrevistá-lo para as Páginas Amarelas da revista “Veja”. “Dr. Ulysses” é crucial para entender Ulysses Guimarães, um dos mais importantes combatentes — com sua arma principal, a palavra — da ditadura.

Scarta foi correspondente e articulista do Jornal Opção durante anos. Ele enviava os textos, inicialmente por fax. Mandava os textos na sexta-feira para sair na edição de domingo.

Depois que enviava suas amplas análises, telefonava para atualizá-las ou, eventualmente, corrigi-las. Era detalhista e perfeccionista. Às vezes, eu e José Maria e Silva, editores do jornal, tínhamos dificuldade de entender sua voz. Pacientemente, ele dizia o que era preciso mudar ou acrescentar no texto. Não gostava de intervenções em suas análises, nem mesmo nos títulos. Uma vez, alguém da diagramação decidiu, por conta própria, assinar um artigo de sua autoria como Antônio Carlos Scartezini. Ele ligou e reclamou: “É A. C. Scartezini”. Ele disse a mim ou a Zé Maria que “Antônio Carlos” lembrava Antônio Carlos Magalhães, o “rei’ da Bahia.

Os textos de Scarta, análises precisas (e bem-escritas) do quadro político nacional, eram muito lidos e discutidos pelos leitores. Ele sempre perguntava a respeito da repercussão. Conversava com Herbert de Moraes Ribeiro — eram amigos —, comigo e com Zé Maria todas as semanas. Era, acima de tudo, um repórter atentíssimo e um redator e analista de primeira linha.

Na década de 1990, numa visita à redação, quando o jornal funcionava no Center Shopping Tamandaré, Scarta concedeu uma longa entrevista ao Jornal Opção. Falou da história do país, na ditadura, e sobre jornalismo. Com o gravador desligado, relatou histórias deliciosas do ambiente jornalístico.

Scarta nasceu em Goiânia, em 30 de dezembro de 1944.