O escritor e diplomata chileno Jorge Edwards morreu na sexta-feira, 17, aos 91 anos, em Madri. “Foi basicamente o diabetes, que progrediu e produziu um estado de saúde que o levou à internação no fim de semana e depois, assim que voltou para casa, ele faleceu”, disse Jorge Edwards Filho.

O Instituto Cervantes, da Espanha, divulgou uma nota: “Perdemos um romancista excepcional, um ensaísta corajoso e um jornalista atento a todas as camadas da atualidade. Sentiremos falta de sua vitalidade e moral elevado”.

Jorge Edwards ganhou o mais importante prêmio literário da Espanha, o Cervantes. O escritor era amigo do poeta chileno Pablo Neruda.

Formado em Direito, Jorge Edwards se pós-graduou em Princeton, nos Estados Unidos. Em seguida, decidiu pela diplomacia e serviu ao governo do Chile de 1957 a 1973. Trabalhou na França, no Peru e em Cuba.

Enviado a Cuba, para instalar a embaixada do Chile, em 1971, Jorge Edwards, ao contrário de García Márquez, não fechou os olhos para a repressão da ditadura comunista. Ouviu escritores e descobriu o óbvio: não havia liberdade de expressão na ilha. Pressionado pelo governo de Fidel Castro, viveu apenas três meses na terra do poeta e prosador Lezama Lima e teve de deixá-la. O governo socialista do Chile o enviou para Paris.

Do que viu em Cuba e das conversas com intelectuais do país — que, para sobreviver, tinham de silenciar ou cair fora da ilha —, Jorge Edwards publicou o livro “Persona Non Grata”. A obra foi elogiada pelo cubano Guillermo Cabrera Infante, autor de “Mea Cuba”, e por Octavio Paz. “Sua linguagem é uma amálgama das virtudes mais difíceis: a transparência com a inteligência, a penetração mais incisiva com um sorriso”, escreveu o Nobel de Literatura do México.

O romance de Jorge Edwards “A Origem do Mundo”, publicado no Brasil pela Cosacnaify, ganhou uma crítica positiva de Mario Vargas Llosa: “De todas as histórias que escreveu, esta é a que eu gosto mais, a mais divertida e inesperada, a de construção mais astuta”.

O romancista, contista e poeta brasileiro Machado de Assis era uma das paixões literárias de Jorge Edward. “Machado de Assis é o maior escritor latino-americano”, escreveu. Ele é autor do livro “Machado de Assis”.

Em 1950, quando veio ao Brasil, Jorge Edwards hospedou-se no apartamento de Rubem Braga. “Nos tornamos muito amigos. Bebíamos muito uísque, tenho que confessar. No Chile não dava para importar uísque, só tínhamos o chileno, que era muito perigoso. Ele chegava com aquelas garrafinhas extraordinárias, era como chegar com uma chave que abre todas as portas”, contou Jorge Edwards, em 2014, na Flip. Na biografia “Rubem Braga — Um Fazendeiro do Ar” (Globo, 610 páginas), de Marco Antonio de Carvalho, há uma referência a um encontro entre os dois escritores. Está na página 385. Versa-se também sobre a beberagem de uísque, mas não é a mesma história.