“Pergunte ao Riba” — diziam seus colegas de redação quando o assunto eram as contas públicas do país

Roberto Civita, da Editora Abril, costumava sugerir que jornalista não sabia matemática. Por isso, certamente, às vezes é difícil recrutar repórteres para a área de economia. Mas Ribamar Oliveira, o Riba, sabia mais do que matemática. Sabia, como poucos, interpretar as contas públicas (e outras, por certo) com distinção e competência e explicá-las, com certo didatismo, para facilitar a compreensão dos leitores. Na terça-feira, 1º, depois de quase 50 dias de internação, o profissional morreu, aos 67 anos, de complicações derivadas da Covid-19.

Ribamar Oliveira era repórter especial e colunista do jornal “Valor Econômico”. A reportagem “O escândalo dos precatórios” lhe deu um Prêmio Esso de Economia. O jornalista trabalhou em “O Globo”, no “Jornal do Brasil”, no “Estadão” e nas revistas “Veja” e “IstoÉ”.

Ribamar Oliveira: um gênio das contas públicas | Foto: Reprodução

A especialidade de Ribamar Oliveira eram as contas públicas, que destrinchava com eficiência e relativa facilidade. Até economistas o procuravam para entender melhor determinadas questões. No jornalismo, era uma espécie de Pelé de Contas Públicas.

“O Globo” ouviu economistas consagrados e todos são unânimes: Ribamar Oliveira era um gênio das contas públicas.

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga disse: “Ribamar era o mais importante observador e analista da caótica cena fiscal brasileira. Suas colunas e matérias eram indispensáveis pela qualidade, profundidade e isenção. Deixa um enorme buraco”.

Samuel Pessôa, da Fundação Getúlio Vargas, corrobora: “A qualidade da análise fiscal de Ribamar era tão boa que acompanhar Ribamar quase tornava desnecessário termos pesquisa independente na área fiscal. O que me impressionava era o profundo conhecimento que ele tinha dos dados. Ele conhecia a cozinha dos dados, como o dado era construído”.

O secretário de Economia e Planejamento do governo de São Paulo, Henrique Meirelles, sublinha que Ribamar Oliveira era “exímio” conhecedor das contas públicas do Brasil. O “campo” é “complexo e intrincado”, mas o jornalista o compreendia e o explicava com facilidade para os leitores. “Foi graças a esta competência dele que o Brasil soube de notícias fundamentais neste campo.”

Nas redações, os colegas costumavam dizer “pergunte ao Riba” — que quase virou bordão. Ele uma espécie de Google sistematizado das contas públicas.