Morre Claude Lanzmann, diretor de “Shoah” e amante de Simone de Beauvoir

05 julho 2018 às 10h31

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O francês foi secretário de Sartre, dirigiu o talvez mais amplo documentário sobre o Holocausto e criticou duramente Oscar Niemeyer

Claude Lanzmann não era Sartre (foi seu secretário), não era Camus, não era Aron, não era Ponty, não era Beauvoir e tampouco Godard. Mas era uma personalidade que, tipicamente francesa, provocava polêmica. Tornou-se mais conhecido devido ao documentário “Shoah”. O filme sobre Holocausto tem mais de nove horas de duração. Nos últimos anos, especialmente depois da publicação de suas memórias (“A Lebre da Patagônia”), voltou à baila, menos pela qualidade “literária”, e sim pela revelação de seu caso com Simone de Beauvoir (ele era 17 anos mais novo), a escritora e companheira do filósofo Jean-Paul Sartre. Na quinta-feira, 7, ele morreu em Paris, aos 92 anos.

O porta-voz da Editora Gallimard relata que Claude Lanzmann estava doente, sobretudo fragilizado pela velhice—que, no dizer de Philip Roth, é um massacre.
Yale, um das mais importantes universidades dos Estados Unidos, adquiriu as 112 cartas de amor enviadas por Simone de Beauvoir a Claude Lanzmann. Ele disse que as missivas retratam um “amor louco”.
Opinião de Claude Lanzmann sobre Oscar Niemeyer

Leia dois trechos de uma entrevista de Claude Lanzmann a Leneide Duarte-Plon, publicada na “Folha de S. Paulo”, em 24 de fevereiro de 2011.
Folha — Com que estado de espírito vai conhecer o Brasil ? Claude Lanzmann – Já conheço o Rio, onde fui em 1985 ou 1986 para o festival de cinema organizado por um francês, Jean Gabriel Albicocco [na ocasião, Lanzmann exibiu “Shoah”].
Todo mundo ficava hospedado no mesmo hotel e um acordo tinha sido feito com a favela vizinha para que não houvesse violência. O hotel era um prédio tipo torre, de Niemeyer, que é um criminoso. Ele ainda está vivo? Tem 103 anos? É um criminoso. Um arranha-céu circular é totalmente idiota, um absurdo.
Folha — Por que o sr. diz que Niemeyer é criminoso?
Nesse arranha-céu onde o festival se desenrolava, esperávamos 45 minutos de fila para descer ou subir. Esse é o crime do arquiteto. O círculo serve para quê? As pessoas fazem os prisioneiros andarem em círculos nas prisões cortando assim qualquer projeto, qualquer futuro, é isso o círculo. Os arquitetos que constroem prédios circulares são idiotas. Não tenho nenhum respeito por Oscar Niemeyer. Ele construiu Brasília também? Pior para Brasília.
Folha — O que tem contra ele?
Não se constrói em círculo. Mas era a primeira vez que eu via o Atlântico Sul. Havia ondas enormes. Depois, dormi na praia e fui assaltado por um menino que correu e eu não consegui agarrar. No pouco tempo que passei no Rio, vi mulheres terem os colares arrancados do pescoço. O Rio é uma cidade que me pareceu extremamente perigosa. O meu filme, “Shoah”, foi legendado às pressas e teve problema de tradução, os brasileiros fazem tudo na última hora.