Miriam Dutra sugere que governo FHC facilitou negócios para a Globo no BNDES

23 fevereiro 2016 às 10h21

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O problema é que não apresenta provas. Ela denuncia uma irmã e garante que houve uma conspiração para retirá-la do país e bancar a reeleição de Fernando Henrique Cardoso
Em termos de qualidade poética, não há uma régua eficaz para indicar quem é maior e quem é menor. Talvez seja menos impreciso sugerir que há maiores de linhagens diferentes — como Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto — e mesmo menores que, por vezes, são grandes, tão grandes quanto os maiores. Talvez seja o caso de Manuel Bandeira. Quanto aos poetas Sylvia Plath e Ted Hughes há uma espécie de Fla x Flu radicalizado.
Há quem diga que Ted Hughes supera Sylvia Plath, mas, como não se tornou um mito — o suicídio teria tornado Sylvia Plath um mito, uma espécie de Isis, segundo um biógrafo —, ficou, por assim dizer, “menor”. O mais provável é que os dois sejam grandes — cada um à sua maneira.
Procede que, ao editar parte dos escritos de Sylvia Plath, Ted Hughes quis, de algum modo, calá-la? Há aposte que sim e quem aposte que não. Poetas e seus leitores são xiitas e sunitas — nunca estão dispostos a um acordo. O mais provável é que, à sua maneira, Ted Hughes tenha contribuído, de maneira decisiva, para divulgar a obra de Sylvia Plath — cuidando da qualidade de sua poesia e de sua prosa. O fato é que não se cala uma poeta, mais, uma prosadora, menos, como Sylvia Plath. O ex-ministro Antônio Rogério Magri, criador da imortal palavra “imexível”, dizia que a americana é “incalável”.
Sylvia Plath e Ted Hughes são mencionados para relatar parte da história de Miriam (ou Mirian) Dutra Schmidt, a mulher que, de calada, decidiu lavar sua roupa suja ao mesmo tempo que suja ainda mais a roupa suja de Fernando Henrique Cardoso. Lavar roupa pública em público é uma forma de reciclá-la. Mexer nos próprios porões é um modo de sugerir que, de perto, ninguém é mesmo normal, como assinala Caetano Veloso, o filósofo da intimidade.
Ressentimento e petismo
Há quem queira calar Miriam Dutra, sugerindo que, ao “atacar” Fernando Henrique Cardoso, estaria a serviço do PT. Muitos esquecem que o ressentimento, por vezes, supera as ideologias e a tramas políticas. Mas por que a jornalista, ex-TV Globo, não pode dizer o que está dizendo? Quem deve se defender é o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso — um dos homens que mais falam de seus companheiros de jornada e dos adversários. O sociólogo, que se apresenta como “mulatinho”, acaba de publicar parte de suas memórias presidenciais. Trata-se de um calhamaço que assusta leitores desprevenidos e mais apegados a ver séries (novelas para intelectuais) e novelas (séries para a plebe). Ninguém pensa em calar Fernando Henrique Cardoso, que, nas memórias, faz fofoca sobre meio mundo. Fofoca chique, é certo. Mas gossip — sem tirar nem pôr. Portanto, não se deve calar Miriam Dutra. Deixem que fale e veremos se, falando muito, consegue superar o ressentimento — espécie de ideologia da bílis — e, como jornalista profissional, conte aos brasileiros coisas para além da alcova. O segundo passo, depois das entrevistas, será a publicação de um livro, possivelmente anunciado como “explosivo”.
Não importa se as palavras de Miriam Dutra são usadas pelo petismo e pelos blogs que apoiam o ex-presidente Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff. O que importa mesmo é que, como se vive num país democrático, ela possa falar abertamente sobre o que sabe ou diz saber. O país nada perde com suas revelações. Não há puros no universo das aldeias. “Quer pureza? Não vá ao convento”, sugeriu um filósofo pouco requestado.
Ao jornalista Joaquim de Carvalho, do “Diário do Centro do Mundo”, Miriam Dutra concedeu mais uma entrevista — depois da primeira, à revista “Brazil com Z”, publicada na Espanha, e da segunda, à “Folha de S. Paulo”. Como repórter hábil, avança um passo em cada entrevista, acrescentando detalhes à história, compondo-a aos poucos. Trata-se apenas de uma mulher magoada, de uma mulher desempregada? Pode ser, pode não ser. Mas é uma mulher que não quer e não vai ser calada, independentemente do que se diz nos jornais, blogs, sites e redes sociais.
Fernando Henrique, o apaixonado
O restaurante Piantella é uma casa dos poderosos de várias áreas de Brasília. Não é Casablanca, a cidade, nem Miriam Dutra é Ingrid Bergman. Nem Fernando Henrique Cardoso é Humphrey Bogart, embora tenha morado na França e talvez seja especializado na história da Resistência. A jornalista e o político se conheceram no Piantella, hoje controlado pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, de nome pomposo e apelido, Kakay, plebeu.
Fernando Henrique Cardoso é apontado com um homem sedutor — de língua de mel e rosas. Miriam Dutra garante que o sociólogo e ex-senador ligava e dizia que estava “apaixonado”. Sabe-se que homens, quando querem uma mulher, sempre dizem o mesmo: “estou apaixonado”. A mulher? É a mais linda mais do mundo: uma Ava Gardner. Com palavras doces, o político charmoso conquistou a jornalista experiente. Começaram a namorar.
FHC: quase ministro de Collor
Miriam Dutra contou a Joaquim Carvalho que Fernando Henrique Cardoso queria mesmo ser ministro de Fernando Collor. Como conhecia os bastidores do governo Collor — havia uma certa “lamocracia” —, a repórter aconselhou-o a pular fora. Não se sabe se o sociólogo conversou a respeito com a jornalista, mas tudo indica que é fato que queria se tornar “collorido”, mas Mário Covas trabalhou pelo veto à participação do PSDB no governo do homem das Alagoas e, vá lá, do lobista Paulo César Farias, o PC.
A gravidez da jornalista
O amor continuava, inclusive com presença nos restaurantes da moda de Brasília — sempre de mãos dadas. A capital da República, como é uma cidade de ninguém — os pousos da maioria dos políticos ficam noutros Estados —, libera os indivíduos para os amores públicos e clandestinos. Mas aí Miriam Dutra engravidou. “Você pode ter filho de quem quiser, menos meu” — teria vociferado o homem que escreveu livros defendendo a liberdade e criticando a escravidão. Chegou a traduzir palavras de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir na passagem deles pelo Brasil, décadas atrás. Com o romântico substituído pelo realista, Miriam Dutra concluiu: “Para mim, acabou. Vi o tipo de homem que era”. Não muito diferente dos outros, se na mesma posição de político proeminente e casado.
FHC é o pai de Tomás Dutra?
Joaquim de Carvalho insiste num ponto nevrálgico: afinal, Fernando Henrique Cardoso é mesmo o pai de Tomás Dutra Schmidt? Dois exames de DNA garantem que não é. Miriam Dutra contesta: “Claro que é. Ele diz que fez os exames nos Estados Unidos e o correto teria ter sido feito na minha presença, com a coleta do meu sangue. Por que fez lá? Por que demorou tanto para fazer, se eu pedi que fizesse quando fiquei grávida?” Se é assim, e como o caso se tornou público, Fernando Henrique Cardoso deveria fazer outro exame, na presença de Miriam Dutra, e divulgar o resultado.
Tomás Dutra Schmidt (foto ao lado) não quer fazer outro exame, afirma Miriam Dutra. “O Fernando Henrique deu a ele o que eu, como jornalista, nunca poderia dar: estudo de graduação na Georgetown University, uma das mais conceituadas do mundo, 60 mil dólares por ano, no mínimo, bancou sua permanência lá, e depois deu um apartamento de 200 mil euros, cash, em Barcelona. Para o Tomás (nome do filho), está bem feito. Para que questionar?”
Armação só da Veja e de FHC?
Se Tomás Dutra Schmidt é filho de Fernando Henrique Cardoso, por que Miriam Dutra disse à revista “Veja” que era filho de um biólogo? “O Fernando Henrique me ligou várias vezes e me pediu que recebesse a revista ‘Veja’ em Florianópolis, onde eu estava para ganhar o bebê, e dissesse que era o filho de outra pessoa. Era uma coisa esquisita. Quem eu era para aparecer na ‘Veja’?” A notícia saiu na coluna “Gente” de 24 de julho de 1991. A nota “esclarecia”: “O pai da criança, um biólogo brasileiro, viajou para a Inglaterra para fazer um curso e voltará para o Brasil na época do nascimento do bebê”. Estranho? Até os defensores juramentados de Fernando Henrique Cardoso concordarão que é. A orquestração é evidente, mas Miriam Dutra, lógico, não é santa — é sujeito do processo, ao lado de Fernando Henrique Cardoso e de jornalistas da “Veja”.
Joaquim de Carvalho pergunta: “E existe esse biólogo?” Miriam Dutra é peremptória: “Claro que não. Isso é mentira. Era o que Fernando Henrique queria ver publicado, e foi publicado”. Segundo o jornalista, a repórter estaria “arrependida”. “Minha mãe quase enlouqueceu e disse: ‘Você não pode fazer isso’. Eu tinha contado para ela quem é o pai. A barra foi muito pesada e eu quase perdi a gravidez”, relata a ex-funcionária da Globo.
Paulo Moreira Leite, jornalista do primeiro time, mas considerado como aliado do petismo, teria contado a Miriam Dutra “que a ordem para apurar e publicar a nota tinha partido de Mario Sergio Conti (foto acima), que tinha assumido pouco tempo antes a direção de redação da revista”. “Foi uma armação do Fernando Henrique com o Mario Sergio”, afirma a repórter. É lógico supor que a jornalista participou da armação, especialmente porque não era e não é uma mocinha ingênua. Era e é um jornalista experimentada.
O ex-editor da “Veja”, hoje no Globo News e na revista “Piauí”, é mencionado com carinho por Fernando Henrique Cardoso nas suas memórias presidenciais. Joaquim de Carvalho não ouviu Mario Sergio Conti.
Fernando Henrique Cardoso é tido como vaidoso, tanto como político quanto como intelectual. Miriam Dutra confirma: “Ouvi dele muitas vezes que seria presidente, porque os políticos no Brasil não sabiam de nada, eram mequetrefes. É claro que um filho fora do casamento, de uma mulher que todo mundo em Brasília sabia que era a namorada dele, prejudicaria seus planos”.
Alberico ganhou TV
Quando Tomás nasceu, Miriam Dutra continuou na Globo, mas foi perdendo espaço no vídeo. Daí foi para Portugal. “Logo estava empregada numa emissora em que Roberto Marinho era sócio”, relata Joaquim de Carvalho. Ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco, padrasto do Plano Real, Fernando Henrique Cardoso era cotadíssimo para disputar a Presidência da República. Dizendo que sua saída do Brasil foi uma espécie de autoexílio, Miriam Dutra relata que Alberico de Souza Cruz (anos antes, aliado de Fernando Collor), “padrinho de seu filho Tomás”, ajudou-a “escapar” para a Europa.
“Eu gosto muito do Alberico (foto acima), ele dizia que me ajudou porque me respeitava profissionalmente. Éramos amigos, conhecíamos segredos um do outro, mas eu fiquei surpresa quando, mais tarde, no governo de Fernando Henrique, ele ganhou a concessão de uma TV em Minas. Será que foi retribuição pelo bem que fez ao Fernando Henrique por me ajudar a sair do Brasil?”
A irmã Margrit Dutra
A metralhadora de Miriam Dutra é mesmo giratória e não perdoa nem parentes, como a irmã Margrit Dutra Schmidt (foto acima, como José Serra). A ex-repórter da Globo frisa que Margrit e o marido, Fernando Lemos, eram donos da Polimídia, “uma empresa de lobby”. “A minha irmã tinha as portas abertas em tudo quanto é lugar e era chamada de ‘a cunhadinha do Brasil’. Agora soube que ela tem um cargo de assessora do Serra no Senado e não aparece para trabalhar. Eu não sabia, mas fiquei surpresa. Esse é o bando de gente para quem ela sempre trabalhou. E o Serra eu conheço bem. Por que a imprensa não vai atrás dessas informações? A minha irmã, funcionária pública sem nenhuma expressão, tem um patrimônio muito grande. Só o terreno dela em Trancoso vale mais de 1 milhão de reais. Tem conta no Canadá e apartamentos no Brasil. Era a ‘cunhadinha do Brasil’”, ironiza. Faltou a Joaquim Carvalho ouvir Margrit Dutra e José Serra.
ACM e Luís Eduardo Magalhães
Por que Miriam Dutra aceitou o vínculo com a TV Globo, exilando-se na Europa e sem ganhar fortunas, não está devidamente explicado. Se ninguém é vítima, e sim participante consciente, de alguma maneira, de um processo em que há um pé na legalidade e outro pé na ilegalidade, é preciso compor a história com nuance. O que, até agora, não há. “Sabe o que eles [os executivos da TV Globo] fizeram comigo? “Ensaboa mulata, ensaboa’.” A citação de Cartola é um momento de relativo bom humor da jornalista.
Carlos Henrique Schroeder, na época o número 2 do jornalismo da TV Globo, abaixo de Evandro Carlos de Andrade, era o encarregado de “ensaboá-la”. Isto na versão de Miriam Dutra. Joaquim de Carvalho não ouviu o hoje diretor geral da Globo.
“Em 1997, eu estava cansada do trabalho que fazia em Portugal, sem nenhuma importância, e me apresentei para trabalhar no escritório em Londres. Na época, quem dirigia era o Ernesto Rodrigues e ele me disse, na cara: ‘Enquanto eu dirigir este escritório, nenhuma amantezinha vai trabalhar aqui’”.
Restou voltar ao Brasil e se apresentar ao chefão Evandro Carlos de Andrade, diretor de Jornalismo da TV Globo. Miriam Dutra disse que havia dois caminhos: voltaria a trabalhar no Brasil ou deveria ser demitida. “O Evandro disse, na frente do Schroeder e do Erlander (Luís Erlanger, que divida com Schroeder as funções de número 2 no jornalismo): ‘Ninguém mexe com essa mulher. Ela mostrou que tem caráter’”, sublinha a jornalista. Schroeder teria dito: “Poxa, você conquistou o chefe”.
Ao saber que Miriam Dutra pretendia voltar para o Brasil, o deputado federal Luís Eduardo Magalhães (foto acima, com ACM), da Bahia, convidou-a para uma conversa, para a qual levou o pai, o senador Antônio Carlos Magalhães. Luís Eduardo e ACM, notadamente o então rei da Bahia, disseram-lhe que “não era hora de voltar, que Fernando Henrique disputaria a reeleição e ela deveria ter paciência”. “Foi quando entendi que eu deveria viver numa espécie de clandestinidade. Se eu voltasse, não seria bem recebida e as portas se fechariam para mim.”
Daí, sem lugar no Brasil, a exilada da democracia tucana, foi para Barcelona. A Globo contratou-a para produzir matérias a partir da Espanha. O salário era de 4 mil euros (18 mil reais), mas a rede não lhe pedia reportagens. Era um arranjo para mantê-la fora do país — na versão de Miriam Dutra. “Me manter longe do Brasil era um grande negócio para a Globo. Minha imagem na TV era propaganda subliminar contra Fernando Henrique e isso prejudicaria o projeto da reeleição.”
Globo e os juros baixos do BNDES
Ao ajudar Fernando Henrique Cardoso, a Globo ganhou alguma coisa em troca? Miriam Dutra sintetiza: o BNDES. “Financiamentos a juro baixo, e não foram poucos.” Este, sim, era um assunto a explorar de maneira mais detida, mas Joaquim de Carvalho não o faz, ou a jornalista não quis fazê-lo. Vale acrescentar que as relações do BNDES com a Globo nos tempos petistas não foram (ou não são) ruins.
Por que decidiu falar
Miriam Dutra passou anos calada, tão-somente lendo reportagens sobre o assunto Tomás Dutra. Por quê? A jornalista frisa que, ao ser demitida pela TV Globo, em setembro de 2015, percebeu que não havia mais nenhuma amarra e que, por isso, poderia falar tudo ou quase tudo que sabe sobre “bastidores íntimos e públicos”.
O diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo, José Mariano Boni de Mathis, foi o encarregado de demiti-la, por intermédio de um e-mail curto: o contrato de Miriam Dutra não seria renovado. A repórter não era mais útil aos interesse da empresa.
“A partir daí, eu não era a Miriam da TV Globo e me senti livre para fazer o que sempre quis, mas não podia: desenterrar os ossos e enterrar de novo, era como publicar um diário. Mas vi que esse cadáver incomoda muita gente, e a repercussão foi maior do que eu imaginava. Agora eu tenho que ler até o artigo de uma jornalista que me conhece e sabe bem dessa história, a Eliane Cantanhêde (foto acima), que me compara ao caso da Lurian, Mirian Cordeiro. Esse pessoal perde a compostura quando é para defender seus amigos. Absurdo”, declara Miriam Dutra. Eliane Cantanhêde trabalha para o Grupo Globo, como comentarista do “Em Pauta”, da Globo News.
Miriam Dutra era um assunto proibido na TV Globo. Mas, recentemente, dada uma reportagem da “Folha de S. Paulo” — inspirada, é claro, na revista “Brazil com Z” (nem sempre citada com o devido zelo) —, a cúpula da maior rede de televisão do país decidiu se pronunciar. Por intermédio de uma espécie de editorial, lido com a precisão de sempre por William Bonner, a Globo descartou qualquer envolvimento em esquema para retirar Miriam Dutra do país e beneficiar Fernando Henrique Cardoso. “Durante os anos em que colaborou com a TV Globo, Miriam Dutra sempre cumpriu suas tarefas com competência e profissionalismo”, disse a Globo pela voz empostada de William Bonner. “Quando vi, pensei que eu tivesse morrido. Elogio assim só em obituário. Mas sei que é a intenção deles: me calar com elogio fácil”, replica Miriam Dutra.
“Está na hora de quebrar a blindagem desse pessoal. Mas onde estão os jornalistas, que não investigam?”, pergunta Miriam Dutra. As memórias presidenciais de Fernando Henrique Cardoso talvez contenham a resposta: o tucano-chefe mantinha uma relação de amor, profundo, com alguma raiva, com os donos dos principais meios de comunicação e com seus editores. Havia, por assim dizer, uma relação de subordinação, com alguma rebeldia, aqui e ali.
Miriam estaria a serviço do PT?
Comenta-se, notadamente nas redes sociais, que Miriam Dutra está a serviço do PT e que suas denúncias têm o objetivo de esconder os problemas dos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff. É mesmo possível que suas declarações estejam sendo instrumentalizadas pelo petismo e seus aliados em blogs e redes sociais. Mas por que a jornalista deve ficar calada? É importante que fale. O perfil de Fernando Henrique Cardoso ficará mais humano com a perda da aura de santo. FHC é habilidoso e está contando sua própria história, em vários livros, como se já estivesse colocando o contraditório para os historiadores. É extremamente inteligente o que está fazendo. As declarações de Miriam Dutra não afetam seu legado, mas contribuem para torná-lo, como homem, mais rico, nuançado. Quanto ao jogo político, isto sempre existiu e não vai deixar de existir.
O importante mesmo é que Miriam Dutra continue falando. Entre mágoas, e talvez um profundo ressentimento — sem o jornalismo, estaria se sentindo um peixe fora d’água —, a jornalista certamente vai fazer mais revelações que, quem sabe, podem ser importantes para a história do país e para a composição da biografia de Fernando Henrique Cardoso.
Não se sabe se, como editor, Ted Hughes quis mesmo calar Sylvia Plath. É provável que quis apenas editá-la. Mas, se quis calá-la, não o conseguiu. Porque não se esconde uma montanha. Fernando Henrique Cardoso e seus aliados não devem tentar calar Miriam Dutra. Porque não é possível silenciar um ser humano que se julga ferido e vilipendiado. Então, cobremos: fale, Miriam Dutra! Fale mais! E não apenas sobre FHC.