Se tem algo que não há na política são espaços de poder desocupados. “Rei morto, rei posto” é uma metáfora para esse tipo de situação.

Com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) confirmada já em duas ações pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – e com outras ainda a julgar –, não há perspectiva para que o “mito” tenha a chance de uma eventual revanche contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas de 2026.

Em uma situação assim, o candidato “plano B” passa a ser o nome mais poderoso do espectro ideológico. Como poder tem a ver também com número de votos e tamanho da economia a que corresponde, no Brasil sempre se voltam os olhos para o principal político paulista. Hoje, portanto, o sucessor natural de Bolsonaro seria o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Ocorre que o mandatário já foi aconselhado por algumas das raposas da política – principalmente Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD – a deixar para pensar na cadeira presidencial depois de se reeleger. De fato, Tarcísio (talvez para não confrontar Bolsonaro) não dá pinta de que queira mesmo concorrer ao Planalto.

Outros dois governadores de Estados bastante influentes, Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais, e Eduardo Leite (PSDB), no Rio Grande do Sul, também sofrem bastantes desgastes em suas bases, por conta de questões conjunturais de seus governos e também da complexa relação que se estabeleceu com um eleitorado de direita muito mais radical.

Esse é um desafio também para Ronaldo Caiado (UB). O governador de Goiás não esconde de ninguém a intenção de voltar a disputar a Presidência, como fez em 1989, ainda muito jovem. Para quem é de uma unidade federativa periférica e com pouca representatividade quantitativa, eleitoralmente falando – os goianos são apenas 3% do total nacional de votantes –, o caminho é muito mais longo e, do alto de sua experiência, Caiado sabe que não tem tempo a perder. Cada oportunidade precisa ser aproveitada da melhor forma.

Foi o que fez semana passada, ao encarar a sabatina do programa Reconversa, do polêmico jornalista Reinaldo Azevedo e que conta também com o advogado Walfrido Warde como entrevistador. Durante mais de uma hora e meia, o governador teve jogo de cintura para se esquivar de questionamentos sobre sua posição ideológica e sua ligação com o bolsonarismo – Reinaldo, que já foi o maior dos antipetistas, hoje defende o governo Lula.

Confira abaixo a íntegra da edição do Reconversa com Ronaldo Caiado, que até o sábado, 9, tinha mais de 33 mil visualizações:

Em questão de visibilidade nacional – algo que todos os que “habitam” a política em Estados fora do Eixo precisam aproveitar ao máximo –, Caiado já tinha mostrado a que veio quando do início da crise sanitária da Covid-19, ao sair de sua residência oficial para enfrentar de peito aberto manifestantes negacionistas que protestavam contra as medidas de isolamento social e fechamento do comércio. Sabia que ali comprava briga com Bolsonaro, assim como fez João Doria (PSDB), então governador de São Paulo, ao bancar o pacote da ciência, inclusive com a vacina Coronavac. Mas, é bom que se diga, o ex-presidente – talvez por não ver Caiado como um concorrente, talvez por respeito mesmo (Bolsonaro já se disse admirador do goiano por várias vezes –, nunca inflou sua turba contra Caiado como fez com o tucano.

Tancredo Neves, o mais mineiro dos políticos mineiros, dizia que na política só existe o “tarde”. Nunca é cedo demais. O que precisa ser feito, portanto, tem de ser feito logo.

Com sua participação no programa do “Tio Rei” – como o jornalista passou a ser chamado pelos internautas –, Caiado, mineiramente, deu mais um passo para ocupar o espaço vago numa direita sem seu principal representante do momento. Mas ganha, especialmente, o conhecimento e a simpatia do eleitor de centro e de centro-direita, que talvez tenha votado no PT apenas porque do outro lado a opção era Bolsonaro.