A militância digital como protagonista da campanha de Marconi Perillo

01 novembro 2014 às 11h08

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Na mais elástica vitória contra Iris Rezende, o governador Marconi Perillo contou com a energia decisiva de voluntários virtuais, coordenados pelo jornalista João Bosco Bittencourt, que movimentaram o debate político e fizeram multiplicar as ações do candidato pelas redes sociais
Frederico vitor
No dia seguinte ao triunfo nas urnas que o conduziu à reeleição, o governador Marconi Perillo imediatamente tratou de avisar em post no Facebook: “Amigas e amigos: ninguém pense que, encerrada a eleição, vamos abandonar as redes sociais. Não fizemos isso no passado, e não vamos fazer agora”. E nem poderia ser diferente. A vitória mais elástica sobre o rival Iris Rezende (PMDB) em segundo turno (57,44% de votos válidos contra 42,56% do ex-prefeito de Goiânia), depois de três embates, se deveu, em grande parte, ao diferencial do tucano: a relação cada vez mais entusiástica com os eleitores que se expandem no mundo virtual.
A jornada expansiva de votos, um feito considerado improvável em face de tremendas dificuldades que Marconi enfrentou na primeira metade do governo, teve uma contribuição considerada decisiva: o engajamento 24 horas do experimentado jornalista João Bosco Bittencourt, 53, assessor especial do governador e fascinado por redes sociais que, pela primeira vez no pleito goiano, permitiu ao candidato desfrutar ao máximo destes recursos por meio de sucessivas inovações. No suporte das ações estava a FSB Comunicações e a equipe de Paulo Henrique. Segundo o ranking das maiores agências de comunicação do mundo, World PR Report, a FSB ocupa a 22ª posição como a agência brasileira melhor ranqueada.
A estratégia foi consolidar um muito bem estruturado grupo de jovens voluntários apoiadores virtuais, chamados de “aguerridos” pelo governador, que exercitaram em profusão o papel de disseminadores das ações de campanha, das ideias, das propostas e também das críticas do candidato tucano. Na origem desta engrenagem estava João Bosco que detinha a matéria-prima central para as informações: ele acompanhou o governador em todos os acontecimentos de campanha e, pessoalmente, tratava de manter sua rede com fatos online, um esforço nunca visto no país. No caso, a diferença veio à tona por meio da primazia que se deu ao WhatsApp. O aplicativo que permite trocar mensagens pelo celular foi elevado à condição de plataforma-mãe pela facilidade para transmissão de textos, fotos e vídeos.
Para chegar ao final da ponta, ou seja, para cumprir a missão de agregar o eleitor indeciso e alcançar simpatizantes, os apoiadores replicavam os acontecimentos online, bem como uma imensidão de produtos próprios, todos marcados pela criatividade. Esta montanha de ingredientes eleitorais, desta forma, chegava naturalmente às mais diferentes cercanias, desde o Facebook até o Twitter e o Instagram. Um levantamento final demonstrou que a campanha de Marconi Perillo no mundo virtual contabilizou 6 mil fotos, 900 vídeos e mais de mil textos.
A efervescência de Marconi nas redes sociais contrastava de maneira acintosa com o burocratismo dos demais adversários. Além de Iris, Vanderlan Cardoso (PSB) e Antônio Gomide (PT) praticamente apenas cumpriram tabela, ao fazer de suas plataformas montadas à última hora, meros depositários de ações de campanha ou agendas, sem nenhum Upgrade digno de repercussão.
Na verdade, o que João Bosco Bittencourt fez ao capitanear a campanha de Marconi nas redes sociais foi multiplicar a já bem-sucedida trajetória do governador neste universo. Sem nenhum recurso ao estilo “robozinho” que turbina o número de seguidores, o tucano chegou, no dia 29 de outubro, três dias após a conquista eleitoral, à marca de 100 mil fãs no Facebook. No Twitter, tem outro contingente admirável: 47,4 mil seguidores. Mesmo no elitista Instagram soma 7.208 interlocutores. O que caberia ao assessor, tendo por base este capital humano, seria fazê-lo ainda mais poderoso. E isso aconteceu.
Para se ter uma ideia, algumas invencionices da campanha chegaram a render um número fantástico de visualizações. Trata-se do chamado vídeo-selfie, uma novidade a que pessoalmente Marconi tem uma enorme simpatia. Este feito foi alcançado pela gravação feita pelo próprio governador durante a visita do ex-presidenciável Aécio Neves (PSDB) a Goiânia, no dia 21 de outubro. Ele registrou parte do trajeto entre o Aeroporto Santa Genoveva e a Praça Cívica, com mensagem de ambos que “bombou”. Ao fazer o agradecimento ao eleitorado após a vitória em 26 de outubro, o tucano voltou a usar o mesmo expediente, desta feita ao lado da primeira-dama Valéria Perillo, das filhas Isabella e Ana Luísa: a peça chegou a mais de 800 mil internautas.
Os chamados hangouts também tiveram efeito devastador. Marconi foi o único candidato no país a manter um bate-papo permanente, duas vezes por semana, transmitido pela internet, e sempre com a participação de especialistas em determinados temas ou celebridades. Algumas edições também cravaram mais de meio milhão de assistência.
É claro que uma andorinha só não faz verão. Alguns analistas mais radicais se inclinam a apontar que vitória nas urnas é resultado, “apenas”, de gestão e mídia. Segundo esta análise, apoio político se agrega naturalmente em face de governos bem-sucedidos. E, quanto aos recursos de divulgação, sai na frente quem tiver mais criatividade, velocidade e “bala na agulha”. Não bastam a TV e o rádio num universo que, cada vez mais, se diversifica nas formas de comunicação. No caso, João Bosco Bittencourt teve o mérito de não considerar as redes sociais como simples auxiliares. Deu a elas papel de protagonismo – e seu candidato se saiu muito bem.