Reportagens do portal de Brasília, ampliada pelos jornais e telejornais, derrubaram Pedro Guimarães. Mas Leo Dias derrubou o jornal com reportagem sobre Klara Castanho

Leitores e telespectadores certamente estão percebendo que o Metrópoles tem sido citado com frequência por jornais e redes de televisão. Porque o portal tem sido responsável por furos jornalísticos cada vez mais frequentes.

Pedro Guimarães e Jair Bolsonaro: amigos do peito | Foto: Reprodução

Qual é o segredo do Metrópoles, que já supera o jornal “Correio Braziliense” que, durante anos, foi o mais importante de Brasília, em termos de jornalismo e circulação? Vale ressalvar que o “Correio” continua um jornal de qualidade, mas tudo indica que problemas financeiros — que têm atingido veículos de comunicação com grandes estruturas — impossibilita contratações e pagamentos de melhores salários.

O Metrópoles segue a máxima eterna: não há jornalismo de primeira linha com jornalistas de segunda linha. Ousado, contratou alguns dos melhores jornalistas do país e adotou uma prática que tem funcionado: colunistas, que na verdade são repórteres gabaritados, trabalham com equipes, como se existisse um jornal dentro do jornal, e são responsáveis pela publicação de várias notícias exclusivas. A rigor, as colunas se tornaram microeditorias autônomas.

Pode-se dizer, sem receio de errar, que as melhores reportagens estão nas colunas. O que não quer dizer que, fora delas, não há jornalismo. Há, sim, e também de qualidade.

Rodrigo Rangel: repórter do Metrópoles | Foto: Cristiano Mariz

Entre os jornalistas experimentados estão Ricardo Noblat (ex-“Correio Braziliense” e ex-“Veja”), Rodrigo Rangel (egresso da “Veja” e da “Crusoé”, onde fez um excelente trabalho), Guilherme Amado (ex-“Época”), Almiro Marcos (ex-“Correio Braziliense”), entre vários outros.

Na semana passada, Rodrigo Rangel e sua equipe produziram um material excepcional a respeito de Pedro Guimarães, que, usando da prerrogativa de ser presidente da Caixa Econômica Federal, supostamente assediou várias funcionárias.

A reportagem alcançou imensa repercussão na sociedade e os meios de comunicações tradicionais, que comeram poeira, tiveram de ir atrás do trem elétrico — opa, do Metrópoles. Felizmente, desta vez, citaram a fonte. Pedro Guimarães acabou sendo demitido por pressão do Centrão e, decerto, de militares de mente mais arejada. O presidente Jair Messias Bolsonaro, old caubói de Marlboro, parece que não queria exonerar o “amigão” de todas as horas. Afastou-o a contragosto. Não queria dar o braço a torcer, pois não aprecia defenestrar aliados a partir das “pressões”, como diz sua turma, da “mídia”.

Ricardo Noblat: veterano que brilha no Metrópoles | Foto: Sergio Dutt

O fato é que o ex-poderoso Pedro Guimarães — chegou a ser cotado para vice na chapa de Bolsonaro — caiu devido à reportagem do Metrópoles.

Houve quem, como a “Folha de S. Paulo”, tentou minimizar, não a relevância do furo em si, e sim do portal. O jornal paulista que, apesar de muito bom, quase sempre é o primeiro a chegar a atrasado — o que prova que Otavinho Frias Filho faz falta à redação —, fez questão de lembrar que o Metrópoles é propriedade do ex-senador Luiz Estevão, de Brasília, que chegou a ser preso por envolvimento em corrupção com obra pública. Mas o sucesso do Metrópoles não advém tão-somente de a empresa que o põe em circulação ter “muito” dinheiro. Há jornais que, mesmo com dinheiro em caixa, faz um jornalismo de última categoria, às vezes assustados pelas patrulhas ideológicas tanto da esquerda quanto da direita.

Não é falso que o multimilionário Luiz Estevão é, com dois filhos, dono do Metrópoles. Mas nada tira o mérito da excelente equipe do Metrópoles, que, independentemente de quaisquer interesses do empresário, faz jornalismo.

A atriz Klara Castanho e o jornalista Leo Dias

Se o Metrópoles faz jornalismo que vira manchetes em outros jornais, sinal de que está se tornando “pauteiro” nacional, ocorreu pelo meno um desvio de conduta grave. O repórter Leo Dias esmera-se em publicar fofocas (e não, é claro) e, dada a audiência de sua coluna, é valorizado. Jornalismo precisa de limites, mas não se sabe qual é o limite do profissional. Parece que se tornou o “James Bond” do Metrópoles. E, quando comete erros, chora e, no caso recente, vai para o exterior — como se estivesse se “premiando”.

Leo Dias, o James Bond do Metrópoles, e Klara Castanho, atriz | Fotos: Reproduções

Recentemente, Leo Dias publicou que a atriz Klara Castanho, estuprada, ficou grávida e entregou o bebê para adoção. Além de mencioná-la, o repórter divulgou dados do nascimento da criança, o que, aparentemente, possibilita sua identificação. O portal publicou uma nota, admitindo o erro: “Em relação a Klara Castanho, praticamos mau jornalismo”.

Leo Dias admitiu: “Eu não deveria ter escrito nenhuma linha sobre esta história ou ter feito qualquer comentário sobre algo que não tenho o direito de opinar. Apesar da proximidade com o ato, reconheço que não tenho noção da dor desta mulher. E, por isso, peço, sinceramente, perdão à Klara”.

O problema de Leo Dias é o estilo espetaculoso de seu jornalismo. Mas o mau passo do profissional (um deles? qual será o próximo?) não invalida o fato de que, no caso de Pedro Guimarães, o Metrópoles fez jornalismo de qualidade, que reverbera nos jornais e telejornais.