Marxista diz que ataque do Financial Times a Piketty é uma defesa dos ricos
07 junho 2014 às 12h00
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O influente economista francês François Chesnais, professor emérito da Universidade de Paris 13, concedeu uma entrevista à repórter Eleonora Lucena, da “Folha de S. Paulo” (quinta-feira, 5), na qual defende e critica Thomas Piketty, na atualidade o economista mais discutido do mundo, devido às polêmicas criadas em torno de seu livro “O Capital no Século 21” (Intrínseca, 768 páginas, tradução de Monica Baumgarten de Bolle). Chesnais, de 80 anos, é marxista, Piketty não é. As ideias do jovem pesquisador estão sendo debatidas mundialmente e, recentemente, o “Financial Times”, importante jornal de economia, apontou alguns erros na obra.
Chesnais frisa que, mais do que uma interpretação, o artigo do “Financial Times” é um “ataque” a algumas ideias de Piketty. Ele cita um artigo de Paul Mason, publicado no “The Guardian”, no qual se diz que o jornal inglês, além de fazer “uma defesa descarada dos muito ricos”, baseia seus “argumentos” principalmente em dados do Reino Unido, “onde os números apenas refletem o baixo nível de taxação e a escassez de estatísticas fiscais”. Em suma, a discordância do “FT” teria menos a ver com erros e mais com ideologias divergentes.
Ao mesmo tempo que defende Piketty, Chesnais o critica: “Piketty enxerga a alta desigualdade e a riqueza como os principais obstáculos para o crescimento e, assim, como o maior problema para o capitalismo. Assim ele vê a taxação de renda e da riqueza como a principal solução, culminando com a proposta totalmente inviável de um imposto global sobre a riqueza. Porém, a lista de problemas chaves enfrentados pelo capitalismo é maior”.
A lista de problemas inclui, afirma Chesnais, “a queda na taxa de lucro global, o crescimento da concentração industrial (as enormes fusões e aquisições observadas hoje) e o avanço no grau de monopolização. Há queda da taxa de formação de capital, ausência de inovações tecnológicas que requerem novos grandes investimentos e despesas com salários, contínua ênfase em indústrias que deram tudo que podiam dar em termos de crescimento e têm efeitos bumerangues contrários (a dependência nos automóveis é a primeira da lista). É por causa dos obstáculos enfrentados pelo capitalismo e da escassez de lucros decorrentes da produção que tanto dinheiro vai para o setor imobiliário — com as bolhas de imóveis — e uma grande quantidade é destinada à especulação através da negociação de papéis sobre a produção atual e futura. Trata-se do capital fictício. Não acrescenta nada ao estoque de investimentos nem serve de apoio ao crescimento”.